Barcelona parte II: Casa Dover

Comecei a planear esta viagem ainda em março. Não só porque a oferta era para abril, mas também porque queria garantir as melhores estadias, os melhores horários de voo e os melhores preços, evitando a tomada de decisões de última hora e o contentamento com o que sobra. É claro que, fazendo este programa parte da minha vida, algum percalço teria que ocorrer (sobre esta minha sina irei falar mais tarde). Armada em chica-esperta, já de hotel reservado e de namorado satisfeito com o presente, espreitei um desconto num popular site do género, e toca de cancelar o primeiro e fazer a troca: o segundo espaço era mais perto, tinha piscina e sauna incluída e ainda ficava uns euros mais barato. Perfeito. Já sabendo o que a casa gasta e conhecendo as reclamações feitas nestas plataformas, antes da compra contactei o hotel. Certifiquei-me de que teriam vagas para os dias pretendidos (mudar o avião saía-me ao preço de dois hotéis, dos bons), e lá fiz o pagamento. Os três dias seguintes foram passados a enviar e-mails e a tentar fazer telefonemas para garantir aquelas noites para mim. Nada. Nada de resposta de um ou de outro lado. Atenderam-me uma vez e pediram para ligar mais tarde porque ninguém falava inglês (?) e eu, confesso, sou uma nódoa a espanhol. Mais umas quantas tentativas e nada de novo. Fui espreitando o site do hotel e ainda o do booking, para ter a certeza de que os quartos continuavam disponíveis, embora ficasse cada vez mais preocupada. Ao fim de 15 dias lá recebi uma resposta: Lamentamos, mas não temos nenhuma opção de ocupação para as datas que pretende. Perguntei como era possível, já que via mais de 70% dos quartos vagos online. E responderam-me, com uma cordialidade daquelas que irrita, que o que eu dizia apenas provava (assim, exatamente assim, como se estivéssemos em julgamento), que tinham quartos disponíveis no hotel, e não que tinham quartos disponíveis para mim, que "comprei" um voucher, mas que caso quisesse pagar o preço total não haveria qualquer problema. Claro que não achei a resposta minimamente satisfatória. Lembro-me de ter ficado com vontade de espetar palitos nos dedos do senhor. Cheia de boa fé, perguntei então se poderia pagar a diferença, se o voucher poderia ser convertido em serviços, se abdicando do SPA era possível, eu sei lá. Nada. E um nada com uma arrogância crescente, do lado de lá, mesmo eu tendo explicado a situação, mesmo tendo dito que falei com eles antes de fazer a compra porque só queria mesmo para aquelas datas. Às tantas, recebi um e-mail que me aconselhava, numa próxima, a ler as condições de compra antes de me aventurar. Como se soubessem ou deixassem de saber o que eu tinha ou não lido. Quase explodi. 

Virei-me para o site de descontos, sem qualquer esperança. Dali já sabia que ouviria um não nos responsabilizamos pela disponibilidade do hotel. Exatamente por isso é que eu achava tê-lo feito. Li tudo, tudo para a frente e para trás, todos os regulamentos, todas as pequenas linhas. Tudo o que tinha lido antes, mas com três vezes mais atenção. E eis que a loucura compensa: até 14 dias era possível pedir uma devolução. Ora bolas, este era o 15.ª. Nova contagem, com mais calma. A compra foi feita já de noite, esse dia não pode contar como primeiro, certo? Se eu pago às 21, só nas 21 seguintes se fazem as primeiras 24 horas. E a teoria funcionou. Pedido feito e dinheiro devolvido ao fim de quase duas semanas, diretamente para o cartão e sem nenhum aviso ou explicação. Foi da maneira que saiu reforçada a minha ideia de não voltar a fazer lá compras. Faço por tantos outros, suposta concorrência, mais pequenos e menos conhecidos, e sempre correu tudo bem. Vou aos grandes e é isto. É lógico que até hoje ninguém me tira da cabeça a coincidência que foi a resposta do hotel no suposto 15.º dia, quando alegadamente eu já não poderia reaver o dinheiro, e especialmente depois de me terem atendido na hora e sem problemas no dia da compra, e de repente terem desaparecido do mapa.

Aventuras à parte, acabei por me encontrar, à última da hora e já com preços exorbitantes, a vasculhar no que sobra. E tal como os melhores planos são os não planeados, também os melhores achados nascem dos estados mais caóticos. Foi assim que descobri a Casa Dover. Com um conceito de Bed and Breakfast e um rapaz que nos recebe, no primeiro dia, e lá volta todas as manhãs caso precisemos de algo; com toda a comodidade ao nosso dispor, wi-fi gratuita e uma sala de convívio que nos faz sentir em casa, acabou por sair melhor a emenda que o soneto. Os quartos eram limpos e arrumados todas as manhãs, o anfitrião era dos que nos explicava tudo, desde o funcionamento do ar condicionado aos caminhos e locais a visitar, o pequeno-almoço um mimo, numa mesa partilhada para fomentar o convívio e a decoração impecável. Chocolate, café e chá sempre à nossa disposição, um frigorífico para os mantimentos, micro-ondas e torradeira. Gostei, e é para voltar. 




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