Das pessoas ainda mais especiais


Há uns tempos vi um filme sobre uma adolescente que descobria que o rapaz estranho da escola, o introvertido inteligente por quem se apaixonara, estava a morrer de cancro. O final não é típico, sequer feliz, e a história, sendo mais uma do género, não deixa o espectador indiferente. Ela acaba por largar tudo, tudo aquilo a que se apegara ao longo da  vida, todas as certezas que sempre teve e todos os caminhos que outrora escolheu. Percebe que ninguém pode controlar nada, e que a única forma admissível de viver passa pela obrigatoriedade da tentativa constante e desajeitada de se ser feliz. Cliché? E quando o salto é para a vida real?

Conheço a C. há uns pares de anos. Foi preciso encontrarmo-nos duas vezes para passarmos a partilhar os sorrisos genuínos e a cumplicidade de quem viveu as mesmas situações. A vida nem sempre tem sido fácil para ela, e escrevê-lo assim é um eufemismo. Não é preciso conviver-se durante muito tempo com a personagem para nos apercebermos do feitio desconfiado, de quem já aprendeu a não dar o braço quando se pede a mão. Diz o que pensa e pensa sobre o que diz, sobre o que dizem e sobre o que vai dizer. Pondera, reflecte e analisa tudo, sempre. Quem lhe cai nas boas graças é sortudo com S maiúsculo. Leva dali para a vida uma das mais genuínas pessoas com quem se pode conviver. E depois, como se não bastassem todas as frases tortas que a ouvimos dizer em frente a este ou àquele, que nos pregam um sorriso nos lábios daqueles que só quem sabe que não faz por mal consegue manter, sai-se sempre com uma coragem extraordinária ninguém sabe bem de onde ou como. E de um corpo pequenino, que outros acreditariam ser frágil, sai uma guerreira nata, sempre disposta contornar os obstáculos que vão surgindo.

Ontem, quando a tentava fazer saber que estava por cá para o que fosse preciso, respondeu-me em tom de desabafo, com uma lição de vida daquelas que julgamos apenas existir para preencher as páginas dos livros de auto-ajuda de bolso. E naquele momento, sem o conseguir explicar, passei de confortar a confortada, calma, em paz e de olhos brilhantes. Disse-me ela que não queria ser uma vítima da própria vida. Que seria sempre mais dura com os problemas do que eles com ela. E isso é de louvar, de admirar e de nos fazer sentir Sortudos por a conhecer.

Há pessoas capazes de nos arrancar os pés do chão num segundo, de atirar com as nossas convicções para o lado e de nos mostrar que há outra forma de encarar o mesmo mundo. São as pessoas ainda mais especiais, pessoas como ela.
© POST-IT AMARELO 2014 | TODOS OS DIREIROS RESERVADOS

PARA MAIS INFORMAÇÕES:
♥ dopostit@gmail.com
♥ https://www.facebook.com/postit.amarelo
imagem-logo