"Parecem galinhas quando se juntam"

                                                   Leighton Meester and Blake Lively

Há poucas coisas que unem de forma tão consiste um grupo de mulheres que mal se conhecem como um conjunto de ódios comuns. Se for por outra mulher, alheia ao grupo e quase sempre pirosa, melhor ainda. É-nos natural.  Fugir a isso é quase o mesmo que deixar de falar do tempo no elevador, quando há vários andares para descer e a pessoa que está connosco é, não só um perfeito estranho, mas pior: um perfeito estranho com que nos cruzamos diariamente. Estado do tempo e crítica feminina só não são comparáveis pelos diferentes níveis de prazer que proporcionam. Sabemos que dizer que o céu estará mais nublado a litoral, com pequenas ocorrências de precipitação, não nos irá fazer vibrar da mesma forma do que comentar a má escolha dos sapatos desta ou daquela.

Ao contrário da crença popular [masculina] não somos más línguas. A crítica negativa, pura e dura, sem qualquer ambição de evolução para a pessoa/ objecto escolhido, é uma arte que se aperfeiçoa ao longo dos anos. Há quem nasça com um dom natural - há que ter cuidado com essas, a não ser sejamos uma - todavia, todas as outras vão aprendo, de forma mais ou menos lenta, como se faz. É por isso que, mais tarde, quando realmente queremos, conseguimos ser verdadeiramente más umas para as outras. Estamos treinadas. Duas mulheres podem ser tão amigas quanto dois homens. Mas dois homens são-nos com muito mais facilidade.

Contudo, nesta actividade lúdico-catártica de que falo, criticar nada tem a ver com deitar alguém abaixo - excepto, claro, se esse alguém for um ser que tenha tanto de detestável quanto irritante: aí é inevitável. Porém, regra geral, é muito mais do que isso. É descobrir que embora não gostemos das mesmas calças, não conseguimos suportar o mesmo tipo de camisolas. É perceber, só por um olhar, que ela, ela e até ela, concordam que a ela número 4 tem um decote demasiado comprido, ou uma saia demasiado curta. É conseguir quebrar completamente toda uma rotina, parar o trabalho e formar uma plateia animada em frente a um computador, só porque nos interessa espreitar os vestidos que outras usaram aqui e ali. A receita é simples e os ingredientes apenas passam por uma dose de sarcasmo na mesma quantidade do que alguma maldade. Junta-se tudo e mexe-se com muito humor (abusar nas gramas). Sucesso garantido. Não é assim tão diferente de uma boa gargalhada quando alguém cai em público. Até podemos preocupar-nos depois, mas o primeiro instinto é rir, rir muito.

Convenhamos: as figuras públicas são alvos fáceis e, quase sempre, conseguem garantir a diversão. Não quer dizer que lhes desejemos mal, nem sequer que já não tenhamos vestido pior, que já não não nos tenhamos descontrolado da mesma maneira ou que já não tenhamos caído na mesma cantiga de um qualquer galã-que-se-veio-a-revelar-um-traste. É apenas um fenómeno sociológico. Um ponto comum, uma bóia à qual diferentes mulheres se podem agarrar, ainda que não sejam as melhores amigas, apenas conhecidas. Enquanto lá se está, aproveita-se para se ocupar o tempo, com isto, aquilo e aqueloutro. Preencher tempo com tempo é que não. O tempo [meteorologia] é para quem não tem nada que fazer da vida.
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