Quando 1 + 1 não são 2, mas 11


                                                                                Demi Moore e Ashton Kutcher

                                                      Elisabetta Canalis e George Clooney

Eu adorava a Estrela Guia. Tinha descoberto a Sandy* há pouco tempo, num canal brasileiro, e era doida pelas músicas da dupla (para quem não sabe, ela tinha -  e tem, tanto quanto sei -, uma banda com o irmão, Júnior). Lembro-me das viagens para o Algarve com o CD em modo repeat. Os meus pais só podiam gostar mesmo muito de mim, para aturar um Olha o que o amor me faz vezes e vezes sem conta.

Mas dizia eu que achava um piadão à novela. À Cristal, ao Tony (nomes maus, muito maus) e ao romance dos dois. Ela, a órfã. Ele, o tutor legal. E eles, uma história com pano para mangas.

Já não me lembro de como acabou. Creio que não ficaram juntos, mas a certeza é tão confiável quanto o facto de eu ter um macaco que dança ballet todas as noites no meu quarto. Talvez porque, para mim, nunca tenha feito muito sentido que duas pessoas com uma diferença de idades tão grande possam ser felizes juntas. Sobretudo quando um deles é demasiado jovem. E eu derretia-me com as declarações de amor entre ambos, com as cenas ternurentas e com as pazes, depois das discussões que me deixavam triste. Derretia-me e queria que ficassem juntos, durante um tempo. Porque mesmo com 12, 13, 14 anos - quando é que foi mesmo? - já não achava bem que aquilo durasse para sempre.

E o tempo passou, e a opinião ficou. É muito bonito dizer-se que a idade é um número e que o coração não vê coisas dessas. Também não olha para a carteira, para as convicções das pessoas, para as suas ambições, estilos de vida, cultura e tradições. Não olha. O coração é cego. O amor é cego, e é assim que é bonito, é assim que é verdadeiro. Por isso é que quando sentirmos que encontrámos a pessoa certa, aquela pessoa que queremos que seja para ficar sempre mais um bocadinho, basta que montemos uma tenda  no meio de um matagal e que nos mudemos com a nossa cara-metade para lá. De resto, é assar uns coelhos de vez em quando.

Não sou de oitos, nem de oitentas; muito menos de certezas absolutas (ignorantes). Porém, também não sou pelos livros da carochinha, porque ser romântica é uma coisa e ser ingénua é outra; e ao contrário do que se diz por aí, não me parece que sejam minimamente a mesma. Isto para dizer que a idade até poderia ser só um número, mas não é, porque traz agarradas tantas e tão diferentes experiências de vida, desejos de futuro e concepções de felicidade que se torna difícil, se não impossível, fazer conta que dê resultado certo.

A coisa até pode correr bem nos primeiros tempos. Todavia, enquanto ele já vingou na carreira, já namorou tudo, já deixou, já traiu, já viajou e já viveu tudo o que sentiu que queria fazer, namorar, deixar, trair, viajar e viver sozinho, e agora quer assentar, juntar e ter um filho; ela tem toda a vida pela frente, e ainda não fez nada disso. Nada.

Se podem ser felizes? Claro que sim. Coisas destas, coisas que surpreendem, estão sempre a acontecer. Que sejam a excepção. Se eu acho que é possível, que vai durar e que vai preenchê-la? Não. Chamem-me céptica.

É que, sabem, a diferença não é um número, são muitos. É pura matemática. E o problema, o verdadeiro problema, para o qual ainda ninguém achou solução, reside no facto de todos partirem para o exercício com a ideia errada de que no fim as linhas se irão encontrar porque são perpendiculares, quando durante todo o tempo, e durante toda a relação, sempre foram paralelas...

*Actriz que faz de Cristal na novela

Nota: É claro que se souberem para o que vão, se realmente quiserem as mesmas coisas e se estiverem numa fase da vida semelhante, ainda que com idades completamente diferentes, talvez o número seja só um número e eu tenha estado a filosofar porque sou de letras.
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