Cromos da estrada #1


São tantos e tão fofinhos que já mereciam o seu espaço.

Não costumo deixar que muitos carros se ponham à minha frente, confesso. Não sou condutora de dar muitas passagens, especialmente quando uma das faixas vai terminar: o trânsito já é mais do que muito e toda a gente se quer pôr à nossa frente. Todavia, não sou mesquinha. Tenho a regra do 1: um de cada vez, e em sítios diferentes, pode passar; mas não mais do que isso. É claro que nem sempre a sigo, há momentos de cedência e benevolência, outros de pressa, e as circunstâncias alteram o protocolo.

Pois ainda ontem, estava eu parada no sítio do costume, a enfrentar o tráfego semi-intenso a que já me habituei, de janelas abertas e a aproveitar o clima ameno com uma musiquinha a meu gosto a tocar na rádio, quando, sem mais nem menos, me buzinam. Ora, qual não é o meu espanto quando me apercebo que mesmo atrás de mim está um homem, completamente enraivecido, porque acabei de deixar um carro meter-se à minha frente. Fiquei piursa, mas decidi que ele não me ia estragar a tarde e continuei na minha. Mas que raio, deixo passar quem eu quiser e bem me apetecer!

Poucos minutos depois, aparece outro pobre coitado a querer entrar para a faixa na qual me encontrava. Nem parou à minha frente, mas à frente do que estava à minha frente. Ainda assim, o furiosinho que continuava a beijar-me a traseira do carro abre a janela e grita-me: "Vê lá se não deixas entrar este também". Fiquei com pena. A sério que sim. O atrasado não sabia com quem se estava a meter.

Pois que decidi deixar passar TODOS os carros que o quisessem fazer. Parava, abria os vidros e até lhes fazia sinal que se podiam meter. Assim como assim não tinha pressas e aquela fila não ia mesmo a lugar nenhum tão cedo... Eu, a extremamente simpática, estava a dar cabo do touro atrás. Ele buzinava-me com todas as suas forças. Gritava palavrões como se do seu último dia de vida se tratasse. Furibundo com o mundo e, sobretudo, comigo. Ri-me pelo espelho e assim que o entra-não-entra terminou e alcancei a via rápida, fiz-me à vida; deixando-o, finalmente, para trás, muito para trás.

E é então que, quando vários metros à frente olho para o retrovisor e vejo um louco a acelerar, reparo que é novamente o fofinho. Não que tivesse que ter feito grande esforço, já que ele me buzinou prolongadamente enquanto me ultrapassou e cumpriu o seu objectivo de vida; mas enfim.

Com isto tudo só posso concluir uma coisa: o moço apaixonou-se perdidamente por mim e já não sabia como me chamar a atenção*.

* Se ao menos fosse o Pitt...
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