Devo admitir que fiquei algo surpresa com as vossas respostas a esta pergunta. Não porque não concorde, em grande parte, com o que foi dito, mas porque esperava uma maior divisão de opiniões. Isto dos blogs é coisa gira, engraçada mesmo. Tanta gente que se encontra neste mundo virtual, tantas pessoas, de tantos lugares; tantas formas de pensar diferentes e, no entanto, aqui praticamente todos com a mesma opinião. Ora, pus-me a pensar: se há uma tendência tão forte para um dos lados, por alguma razão será. Por momentos, fiz tábua rasa das minhas convicções e imaginei o que vos passaria pela cabeça. Cheguei lá e compreendi perfeitamente.
A verdade é que eu não saberia como responder à pergunta e o que me admirou foi perceber que todos vocês tinham certezas muito maiores do que eu no que diziam. É certo que cada vez há mais pessoas a acharem que sabem escrever ou, por outra, mais livros de não-escritores a serem publicados. Umas vezes porque aparecem na TV, outras porque são casados com x ou y e, como bem referiram, até porque têm um blog e dele fazem uma edição em papel. Não quero fazer generalizações abusivas porque há com certeza quem se aproveite e ainda assim se inclua nestas situações: se gosta de escrever tem mais é que agarrar a oportunidade que o momento a, b ou c lhe proporciona. E é por isso, talvez, que me divida na altura de escolher. Não estou no mundo literário e sem qualquer experiência com alguma editora não posso afirmar que cada vez seja mais fácil publicar, embora as prateleiras de livros da fnac, bertrand e hipermercados nos possam convencer do contrário. Todavia e, mais uma vez, como muito bem foi dito, os blogs são ferramentas que dão a palavra a cada um de nós, a cada um que a queira ter e deixa de ser precisa uma prateleira para que os nossos escritos existam.
Lembro-me perfeitamente das discussões ao longo do meu curso sobre o fim dos jornais com as novas tecnologias. "Agora, qualquer um pode ser jornalista, basta pertencer ao mundo virtual. Os blogueiros avançam notícias em tempo real, comentam-nas, criam debate no espaço público. Para que vai, então, servir um jornal que já está desactualizado no momento em que está a ser escrito?". Sempre defendi a complementaridade dos meios e não a sobreposição de um. É impossível, por exemplo, fazer jornalismo de investigação online: requer um tempo que a efemeridade da internet não consegue possibilitar. Requer esforço, dedicação e tudo aquilo que vai contra a cultura da rapidez. Por outro lado, visitamos os sites dos canais televisivos e dos próprios jornais e temos complementos actuais e a toda a hora daquilo que já foi dito. São simples actualizações, importantíssimas, mas actualizações.
Não sei se há cada vez mais escritores ou mais gente a achar que o sabe fazer. Mas sei que este tipo de plataformas sociais online permite-me, entre outros, descobrir quem o faça muito bem, e nem por isso precise de ter livros publicados (ainda que, na minha opinião, alguns devessem). Contudo, também o bom blogueiro deve ser aplaudido, sabendo ou não escrever (não me estou a referir a erros ortográficos, mas a um dom), porque para ser bom basta ter algo a dizer que outros queiram saber, independentemente da temática. As coisas não se devem misturar, porque uma não rouba espaço a outra. Não é preciso ser escritor para ter um blog, mas é preciso escrever para o manter*. Não é preciso ter um blog para publicar um livro, mas pode-se publicar um livro a partir de um blog. Não é preciso ter o dom da escrita para criar um blog, mas devia ser preciso tê-lo para criar um livro. E estas são as únicas três certezinhas que tenho. Tudo o resto, é discutível.
*À excepção dos fotoblogs ou blogs que sobrevivem apenas de imagens.