Os meus adoráveis ex

Sou amiga de todos os meus ex-namorados. Ok, se calhar amiga é uma palavra forte. Não temos uma relação diária, não falamos constantemente e não nos vemos sempre. Mas estou lá quando precisam, e sei que posso contar com eles também - ainda que de diferentes formas. Costumava perder muito tempo em discussões com uma amiga que não compreendia muito bem como era possível. "Os homens nunca são só amigos, muito menos aqueles com quem temos um passado" - argumentava ela.  E que me importa isso? - respondo, agora. Que me importa o que eles querem quando eu sei o que eu quero? Mais e melhor: quando eu sei o que eu não quero e quem eu não quero? Conheço palavras suficientes para lhes dar conta disso, e eles, creio, entendem perfeitamente à primeira. Afinal, também andaram na escola e aprenderam os significados das coisas. É claro que, uma vez por outra, há uma certa tendência para o esquecimento. Compreendo, já é matéria de há muito tempo e nem sempre estamos recordados das bases. Mas eu, querida, explico e relembro a quem quiser:
1. Nunca se coloca uma vírgula entre o sujeito e o predicado;
2. Qualquer número multiplicado por 1 é o próprio número;
3. Não é uma negação. Não é sempre não, independentemente da língua, da história e das pessoas.
Há coisas que simplesmente não são ambivalentes.
Já outras estão mais para o cinzento.

Os meus adoráveis ex dão-me alojamento quando visito o norte com um grupo de amigos, mandam-me mensagens do natal, sem nunca esquecerem os cumprimentos à minha família, dizem ao meu actual namorado que já foram apaixonados por mim e contam-me como vai a vida, quando não podem largar os estudos para dar um pulo ao cinema.

Os meus adoráveis ex são-no porque todos nos lembrámos de respirar. Porque não agimos como se nada fosse quando as coisas acabaram. Não continuámos a falar normalmente, a trocar sms, a fazer programas juntos e muito menos, em tempo algum, voltámos a ter alguma coisa. Mais fácil ou mais difícil, com mais ou menos sentimento, mais ou menos doloroso, um fim é um fim. Que depois venha um princípio faz todo o sentido, desde que algo completamente diferente. Se um dia me apaixonei, vou, mais tarde, guardar com carinho todas as boas memórias. São essas que contam quando refazemos o nosso caminho e tudo o que ficou para trás está longe, como se tivesse sido noutra vida, noutra em que não tínhamos a mesma idade, não pensávamos da mesma maneira e não estávamos apaixonados de novo.

Com os meus ex relaciono-me assim. E o meu palpite é que todos são, de facto, adoráveis, porque um dia me conheceram.

Nota: Sei que tenho desafios para responder, selos para ver e tudo mais. Prometo que trato disso este fim de semana.


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