Já sei que venho atrasada



E que há mais com que o Governo se deva preocupar.
Que há coisas urgentes que não têm merecido a mesma atenção.
Que isto não me parece, de todo, por preocupação pura e genuína com os animais.
Até porque, neste campo, muito mais haveria a fazer em primeiro lugar.
Já sei que está tudo revoltado.
Que até o Palmeirim voltou a fazer música da polémica.

Que vêm os extremistas queixar-se de que já não podem ter mil cães a rosnar ao mesmo tempo.
E as senhoras, que usam os gatos para aquecer os pés, estão indignadas.

Já sei que se tem por aí usado o argumento do abandono a torto e a direito, como se tivesse algo a ver.
O problema não é a quantidade de cães que cada um recolhe. É a quantidade de cães que continua a nascer por não existirem meios para se castrarem pelo menos todos os de rua.
E o problema não é o limite, pessoas. O limite está lá muito bem. E eu até acho generoso.
O problema são as consequências. O ir lá a casa roubar um dos animais que esteja fora do número.
Porque é um roubo. E roubo é crime.
Um roubo de um elemento da família. Como se escolhe?
Se ele devia lá estar? Talvez não. Na minha opinião, não.
Mas está, e ninguém tem o direito de o tirar. Porque os sentimentos, a habituação e o companheirismo não se extinguem com retroactivos.
De resto, sejamos crescidinhos. Quem tem idade para opinar, tem também para refletir antes de abrir a boca.
Os animais não existem para nos servir, nem aos nossos caprichos. 
Não existem para ser colecionados e aprisionados.
E prisão é castigo. Prisão é por crime. Que vos fizeram eles?
"Ai que são mais felizes 10 sob o mesmo teto, do que 10 sem nenhum". 
Talvez sim, talvez não. Certamente não, se forem 10 que já não podem sair. Porque o tempo para 10 e para 2 não é o mesmo. A disponibilidade, dedicação e conforto não pode ser igual. Não num apartamento. 
Como em tudo, a contenção só fica bem. 
E, mais uma vez, este é só mais um pseudo-purismo de pseudo-amantes que reivindicam direitos mais prejudiciais do que benéficos para aqueles que apregoam proteger.
Lembro-me perfeitamente de estar no carro, ouvir a notícia na rádio, e pensar: Sim, faz sentido. Pode ser que se acabe com os loucos, que trazem para casa tudo o que tem patas, e que depois acabam a viver em condições sanitárias deploráveis.
Se os números são os que devem ser?
Tenho dúvidas. Quem sou eu para o decidir?
Dois Pinchers fazem muito mais confusão que dois São Bernando. E os primeiros parecem ratos com molas nas pernas. Um Serra da Estrela num T0 não terá a mesma qualidade de vida do que um Shih Tzu. Um cão ativo, que precise de correr todos os dias é uma coisa. 5 cães ativos, que precisem de correr todos os dias, são outra. E 10 cães pachorrentos, que nunca precisem de sair, são a confusão total nas contas do Estado. (Se bem que desconfio da existência dos últimos).
Ainda assim, limites nunca fizeram mal a ninguém. Pelo contrário.
E não são os animais que deles necessitam nesta história.
São as pessoas, o bicho mais difícil.

Eu até poderia prolongar o roll. Mas exatamente o que penso também já foi dito aqui. 
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