Da rabugice


Admiro muito as pessoas que começam as semanas com um sorriso nos lábios. Palavra que sim. Então aquelas que dizem que adoram loucamente o que fazem e que, mesmo que lhes saísse o Euromilhões 3 vezes, continuariam a trabalhar porque não imaginam a sua vida de outra forma, merecem todas as minhas vénias (que são poucas, porque a idade já conta e, volta na volta, tenho dores de costas). 

Que se queira dar alguma utilidade aos dias, percebo perfeitamente, mas permanecer na mesma empresa, quase sempre a trabalhar para outrem, na mesma rotina, e com as mesmas pessoas, tem tanto de familiar e agradável, quanto de monótono e pouco evolutivo. E é coisa que a mim não me assiste. Não que recuse alguns diazitos (bem, se for mais que milionária até podem ser uns meses) de papo para o ar. Mais a viajar, vá. A percorrer o mundo. A poder dedicar os meus dias a uma máquina de escrever bem velhinha, mas catita que só visto. Mas sei que só regressaria à realidade para fazer diferente e não mais do mesmo. E, honestamente, por muito que goste realmente, e no âmbito profissional, de fazer uma lista diminuta de coisas, não me imagino a escolher apenas uma para o resto dos meus dias. O que me faz sempre questionar todas as gerações anteriores à minha, que tinham empregos para a vida. Começo a ficar irrequieta (será dos gadgets? é também culpa da globalização? deveria ter brincado mais na rua?) e ligeiramente claustrofóbica. E a ansiar. A ansiar por novas aventuras- que não significam, necessariamente, mudar de morada ou emprego. Só uma adrenalina diferente, na qual nem sequer sou viciada. 

Isto tudo para dizer que, sempre que me deparo com alguém - pela escrita ou através do telefone - que à segunda-feira, ainda tão de manhã que os olhos ardem por estarem abertos, parece ter comido flores, mel e bambis ao pequeno-almoço, tenho o sentimento oposto, ditado para o resto do dia. 

Não querendo dar tempo de antena ao cepticismo que em mim paira, vamos acreditar que há pessoas tão felizes, mas tão felizes com a sua vida profissional, que os domingos são uma chatice porque significam que ainda falta um dia para voltar a pôr mãos à obra. Vamos acreditar que elas andam por aí. Mas, por favor, vamos também fazer uma força psicológica global para que permaneçam caladas. Felicidade matinal em dia de regresso ao despertador é tortura de século mal amanhado.
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