Isto já não é a casa dos segredos, é o acontecimento mediático do mês

Já ninguém quer saber se a Merkel vem segunda. Importante, importante, é o que se vai passar no domingo. Reza a lenda que foi expulso o Wilson, da casa mais vigiada do país (é esta, ou era a do Big Brother? Já não sei) por ter dado uma cabeçada noutro concorrente. Primeiro, vou tentar abster-me de comentar a cabeçada. Assim de repente, não estou a ver muita gente que em vez de levantar o braço ou de sentir o impulso da mão fechada, se descontrole para dar com a cabeça. Mas gostos há para tudo e eu não os discuto. Tal como não venho aqui dizer que sou demasiado intelectual para comentar o sucedido. Vejo muito pouca televisão, muito pouca mesmo. Para terem uma ideia, a do meu quarto não funciona há mais de um ano e o único motivo porque tenho acompanhado programas como o The Voice ou as culinárias da Nigella na SIC Mulher é porque não consigo trabalhar sem ruído de fundo e, como bem sabem, as minhas noites são feitas de computador nas pernas. Se olhar simplesmente para o ecrã e nada extra me distrair, é certo e certinho que a única direta que faço é a direta para a cama. Isto para dizer que, embora nunca tenha visto um diário semanal e não esteja concentrada em toda a gigante gala de domingo, sei perfeitamente o que se está a passar. Quanto mais não seja porque vem nos blogues, sites, jornais e redes sociais. E como em muita coisa na vida, não saber do que se fala é uma chatice. Pouco me interessa quem fica e quem sai. Não é o mesmo que dizer que não ache incrível que meio mundo discuta a situação, da forma mais acesa possível todas as semanas. Ou que não veja os vídeos em que fazem figuras tristes, só para a seguir me juntar ao coro que diz isto é uma tristeza. Aliás, hoje, ao contrário do que supus no início, quando o meu domingo não parou para ver o primeiro episódio e me fiquei pelo rescaldo nos comentários online, acho muito mais comuns as pessoas que lá estão dentro do que me quiseram (e continuam) a querer fazer crer. Há sempre os mal formados, os mal educados e os chatos. Também na rua. E depois há todas aquelas questões ligadas com a produção e manipulação de conteúdos que eu não sei comentar de outra maneira se não dizendo que me FASCINAM. Desde a coincidência de concorrentes que já se conheciam, à exploração das relações que tinham fora da forma que bem apetecer à produção. Mesmo que no fim acabem por ser treta, sou 100% a favor de teorias da conspiração nos filmes (e isto, convenhamos, é mais do que um filme). 

Feita a introdução (isto são o tipo de coisas que eu escrevo na tese), aqui vou eu, preparada para comentar o episódio de que todos falam, porque sinto que é de importância nacional (não!) e que me devo erguer contra as injustiças. Basicamente é isto:

O Wilson é um concorrente de que ninguém gosta. Nem eu. Mesmo com as meninas, com quem alegadamente se dava bem, já se portou mal. Elas queixaram-se que é atiradiço e que lhes falta ao respeito. É um bocado fiteiro e foi para dentro da casa dizer que se o pai se orgulhasse dele e o abraçasse, depois disto, já tinha ganho. Pois claro. Eu sempre que quero deixar o meu pai orgulhoso enfio-me num programa de televisão feita idiota, para ser observada por todo o país, estilo macaco no jardim zoológico. Entretanto percebeu que os portugueses até gostavam dele, porque ia sempre ficando e tal. Podia apenas querer dizer que gostavam muito menos dos concorrentes com quem ia à faca, mas isto sou só eu que digo. Lá foi pobre Wilson sendo nomeado, semana após semana, enquanto circulavam vídeos na Internet que diziam que a psicóloga da casa tinha mandado todos os moradores afastarem-se e ignorarem o concorrente. Eis que tudo fica interessante para mim e começo a seguir a coisa mais afincadamente: Eles são vídeos, votações abertas para a sua expulsão mas com erros técnicos para a expulsão do opositor (sem que com isso sejam fechadas para ambos), concorrentes que garantem que a produção irá mexer nos votos para o pôr dali para fora..Eu sei lá! Uma verdadeira intriga. Público versus televisão, um clássico. Melhor: suposta verdade, afinal ficção. Adoro. Mais ainda se a TVI o admitisse, mas isso seria mais ou menos como sairmos da crise.

Enfim, resumindo, agora sim. Os concorrentes queriam que o Wilson saísse. Todas as semanas alguém o provoca, alguém lhe grita, inventam-se histórias e o nome dele surge sempre nas conversas, ameaçam-no de pancadaria fora da casa, chamam-lhe todos os nomes possíveis e imaginários. Bullying autêntico. O rapaz, jogador de poker, lá sabe que deve ficar calado e, mesmo não tendo assim muito interesse, lá vai mantendo a postura com uma ou outra discussão pelo caminho. No início da semana lá o vi passar-se e dizer que tinha conseguido eliminar todos os opositores de um grupinho que se tinha formado na casa. Ele, sozinho. Pois. Modesto. A isso juntou uns quantos berros: ai eu sou o vencedor disto, eu é que vou ganhar. Ontem, depois de uns copos valentes, voltaram a provocá-lo. O homem já estava na cama, e todos no mimimimi. Às tantas, levantou-se e deu uma cabeçada no mais chato. Diz-se. Outra versão é que encostou apenas a cabeça. Seja como for, hoje foi expulso. Porque toda a gente sabe que a violência não é tolerável, a física, claro. Curiosamente, uma das suas ex-aliadas dentro do programa foi quem se apercebeu, de outra divisão da casa, que ele tinha dado uma cabeçada no colega. Como se entre cabeçadas próximas e encostos fosse possível distinguir ao longe.

Eis a minha teoria: o Wilson foi levado ao extremo, sim senhor. E ninguém sabe como é lá dentro (nem quero saber). Daí a dizer que se descontrolou porque não aguentou mais, acho um exagero. Isto porque sempre foi muito racional, sempre foi o primeiro a saber parar. O que me faz crer que - e vejam agora como sou boa nestas coisas mais rebuscadas e pensamentos conspiratórios - sabendo que poderia ser expulso no domingo, por ter dito que era o vencedor e que controlava tudo, sabendo que ninguém lá dentro o aturava e já estando farto, achou melhor sair como um herói. E se alguém tem dúvidas que foi esse o resultado basta abrir um qualquer Facebook. Toda a gente, TODA A GENTE, o idolatra. Há movimentos de apoio à nova vítima e de expulsão obrigatória para o que levou com a cabeçada. Não digo que tenha sido muito premeditado, mas viu a oportunidade, fartou-se e agarrou-a. No dia seguinte saiu e é vencedor do coração, mesmo que o dinheiro lhe tenha passado ao lado. Isto sim é de jogador de poker. Finge fragilidade para ganhar. E quanto não vale a boa imagem de alguém? Ele tem a melhor, agora. A ter sido estratégia, é rei da reputação e um relações públicas melhor do que muitos de profissão. 

É que eu até punha a hipótese de não ter sido cabeçada, de não ter aguentado mais, de ter sido provocado até à última e de terem exagerado um enconsto porque lhes convinha. Mas então e depois sai e a primeira coisa que diz foi ai, pois, estive mal, tranquilo da vida e como se nada fosse? Diz que ia encostar a cabeça e acabou por ser com mais força? Hum, não me parece. Quem deu as declarações que deu, ao sair da casa, é uma pessoa que pensa e pensa muito, que está calma porque é inteligente e não cede às emoções. E se não cede, é expulso por agressão? Pois. Ou então é tão boa pessoa que já superou. Pois. 

Como diria o outro, o país precisa é de quem trabalhe, portanto assim me retiro.
Assim, e dizendo para deixarem de inundar a Internet com comentários estilo "agora que saiu, nunca mais vou ver o programa", porque todos sabemos que isso não é verdade. E se, para uma minoria, é, peguem nessa vontade toda e façam alguma coisa pelas vossas vidas estilo "agora que nos roubaram até mais não, nunca mais vou admitir que o façam e vou ter uma atitude que o comprove". 

Tenho dito.
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