Invasão

Emma Watson

Querido blogue, 
Daqui dissertação da Marta. 
Estive a ler-te e achei-me muito importante. Bem sei que pouco voto tens na matéria que aqui entra, mas não posso deixar de me sentir lisonjeada pelas inúmeras referências à minha pessoa. Sim, eu sei que não sou pessoa nenhuma, sou uma dissertação de mestrado e não da pré-escolar. Não sejas chato, está bem? Detesto pessoas que se põem com picuinhices. Sim, eu sei que também não és uma pessoa. Estamos, todavia, ligados por um exemplar dessa espécie estranha que parece estar a enlouquecer, de dia para dia. Eu vou-te dizer uma coisa, em estilo de confidência, que parece sempre ser mais fixe e interessante: quando me atribuíram a Marta como autora fiquei numa excitação completa. Ela sempre teve aquele lado de doida varrida, é certo. Acreditei, porém, que havia esperança. Não posso dizer que esteja desiludida, mas a miúda é um espetáculo a procrastinar. Eu nunca vi nada assim. Se ela escrevesse como procrastina, já eu era três, em vez de meia. Meia não, vá, estou eu a ser chata agora. Vou nos 8 meses de gestação. Não significa que já não pudesse ter irmãos. E o mais extraordinário é que ela até escreve como procrastina. É de uma rapidez que me deixa K.O. Fico louca com a velocidade e quase que nem tenho tempo para absorver o que entra no papel. Depois, mesmo no fim - e quando eu digo mesmo, é MESMO no fim, ela pára. Fez isto em todos os capítulos e, secretamente (de novo para parecer mais interessante) temo que esta seja a pior fase para ela: a de pegar em tudo o que ficou pendente e terminar. Dá-me ideia que é daquelas pessoas que querem fazer e ser milhares de coisas, e depois tudo fica pelo caminho. Raios, se eu acho difícil ser uma dissertação eternamente inacabada, nem quero imaginar como seria ser um neurónio naquela cabeça. Mas caramba, ela é determinada. Lá isso não posso negar. Em primeiro lugar, pôs-me a escrever aqui sobre si, com alguns elogios disfarçados que em nada passam despercebidos, exatamente no momento em que deveria estar ela a escrever sobre (literalmente) mim. Que é como quem diz, em cima do papel. Não escreve. Está para aqui a rir-se para o computador como se fosse maluca e como se tudo isto fosse muito normal.

Eu vou-te dizer uma coisa, blogue.
Se tu não pões travão a isto, não sei onde é que nós os dois vamos parar.
Ela safa-se. Os loucos safam-se sempre. É connosco que estou preocupada. Tu já não tens interesse nenhum e eu tenho demasiado interesse até aos 90%. Pronto, desculpa, estou a ser exagerada. Quem é que eu quero enganar? É só comigo que estou preocupada. E ela, desconfio, também.
Eu vou-te dizer uma coisa, blogue.
Faz-te à vida.
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