Das pessoas preferidas

A semana passada, por esta hora, tinha acabado de chegar do Algarve. Bem, acabado não será o termo. Entretanto já tinha estado à conversa, não sei ao certo por quanto tempo. Estava preocupada com os trabalhos pré-férias que faltavam terminar, com os detalhes que não podia controlar e com os dias que tinha pela frente. Parece que foi há uma eternidade, e no entanto a semana passou a correr. Fui à Galé e nem espreitei a praia. A bem da verdade, não espreitei muita coisa, que a maior parte do tempo foi a dormir. E que bem que me soube! Estive de férias e não larguei o computador. Aliás, comprei um realmente pequeno para garantir que assim o seria, que poderia andar com o word atrás e a toda a hora, daqui para a frente e até à data de entrega (depois disso, há planos de escrita mais livres e prazerosos, igualmente sérios, no entanto). Só hoje, quando estava na bomba de abastecimento, à espera da minha vez, a pensar que poderia estar a aproveitar aquele tempo dentro do carro para escrever mais qualquer coisa (em minha defesa, estive 25 minutos numa fila que começava ainda na estrada), me apercebi do meu estado de demência - algo que, com certeza, terá ficado claro para vocês depois da minha obsessão confessa por uma mosca.

Tenho um problema grave e só hoje o admiti: sou péssima em finais. Não vou entrar pelo meu historial de rompimento de relações amorosas (curto, mas pouco famoso). Exemplos de outras áreas não faltam e, infelizmente, bem mais cansativas e chatas. Sou capaz de ter 20 ideias ao mesmo tempo para uma proposta de comunicação, num papel rasurado, 100% estruturadas na minha cabeça. Contudo, primeiro que as passe para o documento oficial, é um filme. Não porque me custe, mas precisamente pelo contrário: o desafio acabou. Redijo, sem muitas dificuldades, 30 páginas numa noite. Se faltar uma para fechar o capítulo, arrasto-a por um mês (sendo sincera, são meses, mas tenho vergonha de o dizer). Quarta-feira passada vieram 10 novas de rajada. Falta-me um parágrafo conclusivo, desde então. Tenho uma introdução quase completa desde janeiro. Sim, janeiro. Não me orgulho, e não sei o que se passa comigo, mas quando entro naquela fase d' o mais difícil já foi, agora são cinco linhas e fica fechado, o tempo estagna e o trabalho também. Para quem está familiarizado com o processo de obtenção da carta de condução, é mais ou menos assim que me sinto a maioria do tempo, quando tenho uma tarefa pela frente: começamos sempre por dizer que vamos fazer as aulas todas seguidas, e ao fim de duas semanas a despachar grande parte achamos que podemos abrandar. Ou um bocado como a lebre da fábula com tartaruga. Não que eu ache que vá ganhar algo com a sesta, o dormir à sombra da bananeira ou com a pausa por pausa - que, no meu caso, é inexistente. Salto apenas para outras corridas por achar que a presente já deu o que tinha a dar. Ora, esta inaptidão, como podem calcular, é extremamente aborrecida para quem se propôs a fazer um mestrado. Posto isto, e porque há dias em que fico pura e simplesmente louca, como hoje, e decido que já chega de parvoíce, enfio-me na sala e só me permito sair quando acabar o que é preciso.

Claro que tudo se torna mais fácil com companhia. E se esta noite não for por mim, que me canso e fico com a mania que sou muito boa e que isto se fecha muito rapidamente quando eu quiser, será por respeito e muita gratidão a quem me obriga a não desistir. 
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