O Pedro e o José

                                                                                                                                                                Audrey Tautou

Sobre este artigo.

A atitude, seja ela qual for, é sempre um melhor caminho a seguir do que o da inércia. Acredito piamente nisso.
Tal não quer dizer, contudo, que ache racional, ou sequer eficaz, aguardar que o Pedro, cidadão, pai e PM, lhe peça para voltar a comer. Porque o Pedro não lhe vai dar emprego, nem precisa que o chamem à atenção para esta realidade. O Pedro sabe muito bem o que está a acontecer com este país, com os seus reformados, desempregados e jovens. O Pedro, provavelmente, até tem insónias, mas tem também pequeno-almoço servido à mesa no dia seguinte. E não serão cereais do Lidl. O Pedro está desgostoso, mas as pessoas estão desesperadas. 
Não concordo, nem condeno o José. Mas vejo-o com dois braços e duas pernas, com alguma criatividade e vontade de mudar algo, de fazer algo. Este é o seu tipo de protesto, pacífico, nas palavras do próprio. Mas e quando acabar? Os pais deram-lhe tudo, com certeza não foi esperando, com horário definido, no chão de uma qualquer rua, que alguém os empregasse. Há por aí muita loja e café a pedir ajuda. Não é justo que se o faça quando se é designer de comunicação? Não, não é. Não vejo um pingo de justiça nisso e fico triste, revoltada e zangada com o mundo por saber que há por aí tanta, tanta gente nesta situação. Tantas pessoas com o meu sangue, no meu país. Mas os pais do José são também essas pessoas, e nada de bom vem de uma mesada contínua aos 28 anos. Há alternativas. E no meu dicionário, alternativa é só um caminho diferente, e não um caminho melhor. Talvez por isso nem todos as queiram e enquanto o fazem, lá vão privando outros (pais) de as ter. 
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