É isso mesmo

                                                                                                        Emma Watson

E não, o problema não está no facto de os nossos pais nos terem dado tudo. O problema está nos jovens. Não é nos que trabalham e têm um iPhone apesar de o ordenado não permitir, à priori, este tipo de gasto. Porque esses trabalham e o que fazem com o suor do seu trabalho é da sua conta. Está, sim, nos que têm um iPhone, duas consolas, dois macs – um portátil e um fixo – que atrasam cursos porque não lhes apetece estudar, que levantam o queixo para marchar de cravo ao peito, que tomam decisões políticas e que não tão longe assim dos 30 abrem a boca para se queixar quando nunca trabalharam na vida. E não falo dos que têm muito azar, falo dos que recusam de boca cheia estágios não ou pouco remunerados porque é compactuar com o sistema, mas continuam a viver – e à grande – à custa dos pais. Pela L. em As Intermitências da Vida.


Há demasiadas coisas que me parecem muito difíceis, se não impossíveis, de fazer ver a gerações anteriores. Nós temos os livros, os filmes, os testemunhos, os pedaços de história. Não substituem a vivência, mas só não tem uma ideia do que foi quem não está para isso. Eles têm um relato televisivo de uma geração preguiçosa, que não luta com a mesma garra com que lutaram, que reclama mas não muda e que não está à altura dos seus antepassados. E com isto ficam pelo meio todos os outros, todos aqueles que julgam ser uma minoria porque não são os que vêm nas estatísticas ou aparecem na TV. Todos aqueles com que me deparo todos os dias, na minha vida. Os meus colegas, os meus amigos; a minha geração. Que não é preguiçosa, sugadora ou inútil, mas que tem, como todas as outras, uma cambada de tristes exemplares. Correndo o risco de simplificar em demasia a alusão, basta pensarmos que para ter existido uma revolução é porque também antes do 25 de abril existiam duas partes.

Há demasiados erros pelos quais hoje se paga, pelos quais hoje pagamos, nós, que corremos de porta em porta suplicando por três meses de estágio sem qualquer remuneração. Que pedimos dinheiro aos pais para irmos até à outra ponta da cidade, todos os dias, sabendo que findo a sua duração estamos na situação em que começámos. Mais conhecedores, é certo, mas também mais pobres e empobrecendo os progenitores que já pagaram a faculdade. Nós, que como a L. (outra, não a mesma), sabemos que o ordenado tem de entrar, e que se não chega por via da licenciatura, então que se tire um curso de unhas de gel. Nós, que não desaproveitámos, como pensam, o direito à palavra e nos indignamos, falamos, discutimos e explicamos aquilo com que não concordamos. Em casa, na escola, no trabalho. Nós, que mudamos, sempre em buscar de melhor, como é natural que se o faça. Ou nós, que passadas 3 décadas continuamos a ter de estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Ou a trabalhar para sustentar o estudo, na esperança de um trabalho melhor futuro, de acordo com as novas qualificações, que não virá, não por esse motivo pelo menos, porque saber mais já não conta assim tanto. Sobretudo se isso significar pagar mais. E se duas pessoas fazem o mesmo trabalho bem, não é necessário uma terceira que o faça melhor.

Irrita-me muito que se comparem os tempos, porque os tempos não são os mesmos. Nem medir sofrimentos, privações, torturas físicas ou psicológicas, usos da liberdade. Essas coisas não se medem como  se nada em volta tivesse mudado. Irrita-me mais ainda, porém, a desculpa da crise para a inércia. Desde que ouço falar de crise já mudei de trabalho, já tive novas oportunidades, já passei a ganhar o dobro. Mas o que me irrita realmente são os parasitas que a L. (a primeira, não a das unhas) descreve. Porque depois temos as gerações anteriores no poder, nas escolas, nos meios de comunicação e à nossa volta a colocarem-nos a todos no mesmo saco. Sem conseguirem distinguir-nos. E a criticarem-nos porque uma parte do nosso salário foi para um qualquer luxo materialista que nos apeteceu. E a parte torna-se o todo. É  drama, a tragédia e o horror porque, ai Meu Deus, são tempos complicados para a economia. Esquecem-se que, tal como também antes se fez, e agora com mais receio ainda, atiramos a grande maioria para uma poupança, uma outra parte para um mestrado, e todo o restante é consumido entre transportes e refeições, enquanto o diabo esfrega um olho. É quase como se tivessem uma total falta de confiança no trabalho que desempenharam, como se tivesse ficado mal feito, e nós não o tivéssemos aprendido. 
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