September 11th | “‘Forgiveness’ is giving up the hope that the past could’ve been any different”


O programa da Oprah, que acabou de passar na Sic Mulher, falava de duas raparigas gémeas que foram física e sexualmente agredidas dos 5 aos 13 anos pelos dois irmãos mais velhos e, mais tarde, pelo próprio pai. Começou por um, que as levava para a cave e as obrigava a acariciá-lo, a princípio, ganhando terreno. Logo surgiu o outro, interrompendo uma cena de violação já comum, na qual as irmãs, em desespero e recorrendo a todo o seu instinto de sobrevivência, imploravam para que uma fosse levada e abusada em vez da outra. Uma cena de violação já comum, daquelas que se repetia há tanto tempo que ambas conseguiam identificar o sofrimento e o medo na troca de olhares antes de algo acontecer. O segundo irmão saltou para cima do primeiro e, horrorizado, tentou impedir o que se passava naquele dia. Pouco tempo depois, estava também a fazer o mesmo. As miúdas contaram à mãe, vezes e vezes sem conta. Ela nunca "acreditou". Nem mesmo quando as surpreendeu no quarto, à noite, deitadas no beliche com os irmãos em cima. Virou as costas como se nada fosse. O pai, ao descobrir, pediu-lhes que repetissem e demonstrassem o que faziam com os irmãos, até que as duas percebessem que em vez de ajuda tinham alguém mais com que se preocupar. A mãe continuou a ouvir as suplicias delas, que a agarravam e a puxavam à noite, lembrando que iam ser violadas assim que ela saísse. Nunca ninguém fez nada, nada durante seis anos de noites consecutivas; de tardes, manhãs e três monstros que se aproveitavam à vez. Ainda sinto as lágrimas nos olhos. Ainda me sufoca o horror no peito, que está pequeno e apertado, incrédulo. A Oprah saiu-se com uma mensagem de amor que só lhe fica bem, daquelas que nos fazem admirar quem expõe estas histórias e envergonha estes animais. Explicou-lhes que perdoar era somente perder a esperança de que algo no passado tivesse sido diferente. Tenho para mim que nenhuma das duas alguma vez soube o que era acreditar, sonhar e viver. Como perder algo que nunca existiu? E como esquecer quem a roubou? Gostava de poder dizer que seria a pessoa com forças suficientes para ultrapassar algo assim, mas isto não é a história de um desconhecido que nos agarrou num beco, mas de uma dinâmica familiar que durante muito tempo elas acharam ser "normal". Estas coisas não se esquecem, não se perdem, nem se perdoam. Quanto muito, aprende-se a viver com elas, da melhor forma que conseguirmos, devagar e dia após dia.

É isto que é o 11 de Setembro. É isto tanto quanto dois prédios e milhares de vidas. É isto porque a revolta que sentimos no peito, a dor que não é a nossa mas que conhecemos nos relatos, e as lágrimas que nos pertencem mas que não conseguimos conter para nós, são exactamente iguais, exactamente as mesmas. Não é preciso um plano terrorista maquiavélico engederado em anos, apenas e somente uma má índole. É que a maldade, a monstruosidade e a loucura andam juntas e, enquanto tímidas e escondidas, são a mais suja e cobarde arma que alguém pode apontar. Infelizmente, uma das mais poderosas também.
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