Coisas em que eu penso e que não interessam a ninguém

                                                                                                   Lucy Hale

Que se diz que uma mulher fica sempre mais elegante de saltos altos, é certo e sabido. Estamos mais altas, em geral, mais confiantes (excepto se tivermos tanto medo do tacão que cada vez que o usemos seja para cair) e, como é normal, com as pernas mais definidas. O músculo espreita e fica tudo muito mais realçado.

Ora, eu, que sou metro e meio de profunda sabedoria, fã de centímetros na sola até dizer chega, prefiro ver-me de saia e rasos do que o oposto. Isto porque me parece que nada de bom advém do realce dos gémeos. Eles, que tão bem ali estão, encolhidos nas sabrinas, saltam e exibem-se como se não houvesse amanhã, em proporção com a altura do sapato. E eu pergunto-me: Porque é que mulher alguma, no seu perfeito juízo, iria querer “inchar” a perna propositadamente? Pois que não sei, é uma das perguntas existenciais que assolam a minha existência. Isto, claro, assumindo que essa mulher não é uma das Heidi Klums deste mundo, que aí tudo o que inche só traz valor acrescentado. Creio que temos sido enganadas ao longo de décadas e décadas da “elegância do salto”. Eu gosto muito deles, pois que adoro e não me vejo sem. E aprecio a sensação de me sentir mais alta, com pernas longas e aparentemente mais esguias. Mas se me lembro de ficar parada, assim coisa de 10 minutos, a olhar para a parte de trás, por baixo dos joelhos, começo a ver defeitos em tudo o que nos torna crescidas.

Hoje vim de saltos altos, tão altos que, se o pé tivesse acompanhado o meu crescimento em altura, teria passado do meu modesto 36 para um 42 num abrir e fechar de olhos. Já não andava assim tipo arranha-céus há um bom par de meses. Calçava uns agulha, volta na volta, 7 cm máximo, nada de exageros. Estes devem andar pelos 15cm. E porque me lembrei de filosofar sobre a altura dos sapatos? Bom, não é que tenha que existir propriamente uma razão para falar disso, é sempre tema de top 10 na cabeça de qualquer exemplar do sexo feminino. Comecei, aliás, com pensamentos destes logo cedo, ainda no metro, enquanto tentava não desligar e adormecer, admirando o novo verniz dos pés. E quanto mais pensava, mais me convencia, mais tinha a certeza de que estaria muito, muito certa da cabala que por aí se formou e que faz a mulher crer numa melhoria sem limites (é isso e a história das calças pretas).

Mas a verdade verdadinha é que hoje, assim vestida do mais simples que há – calça básica e top liso, passo na rua e é piropo atrás de piropo – quase sempre daqueles que não se quer ouvir, e vindos de espécimes com ar suspeito. E eu até posso andar com a cabeça baixa, a falar o telemóvel e com tanto cabelo na cara que se por traz da franja estivesse um rinoceronte deformado eles não dariam conta. E até ando, falo e estou assim; e ouço, na mesma. Posto isto, resta-me assumir que as alturas têm, de facto, um encanto que eu desconheço.

A não ser que seja do calor.
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