So this is Christmas

                                                                                       
Da última vez que dei um pulo ao Dolce Vita, em busca das últimas prendas de Natal e aproveitando os 50% de desconto da Blanco nos sapatos, para aumentar a minha colecção, lembrei-me de estacionar o carro tão perto de um poste, mas tão perto, que desde o momento em que lá o deixei  sobe que iria ter problemas a sair do sítio. Só nunca imaginei que desse no que desse, se bem que, comigo, tudo é possível. 

Pois que no apogeu da minha aselhice, e alimentando as bocas masculinas deste mundo que se enchem e unem para enxovalhar a condução de uma mulher, consegui a proeza de deixar o carro ainda mais perto do poste ao tentar sair. Algo dentro de mim achou que tentar retirá-lo na diagonal me afastaria do obstáculo, e como tinha espaço à frente tentei a manobra. Não resultou. Entenda-se que perto é um eufemismo. O pobre do carro ficou completamente encostado, tanto que se o deixasse descair para a frente ouvia o raspar na porta traseira, exactamente o mesmo que quando fazia marcha atrás. Saí e limpei a maior parte da tinta branca dos arranhões, mas as marcas já não saiam. Tanto faz, ele está velho mesmo, pensei. Mais do que isto é que não.

O carro estava encostado ao poste mesmo na zona seguinte à porta traseira do lado do condutor. Se eu saísse pela frente, não ficaria mais riscado do que já estava: pouco mais havia para riscar. Mas se eu saísse por trás, ia apanhar as duas portas e ainda a frente. O problema? Tinha um carro estacionado depois de mim. Voltei a sentar-me e a ligar o motor. Tentei de novo. Todavia, assim que o chiar do poste na chapa se fez ouvir o meu coração disparou e obrigou-me a ficar quieta. Saí e olhei em volta com um ar confuso.

Achei que a solução teria que passar por pedir aos seguranças que chamassem o dono do carro da frente pela matrícula e que o coitado fosse mover a viatura para eu poder sair. Que vergonha, vão-me perguntar como fiz isto e nem eu sei bem.Estou mesmo a imaginá-los a olhar para mim e a rirem-se da situação. Apetece-me furar o chão com os pés e esconder-me num buraco para sempre. Talvez seja melhor ficar dentro do carro até o centro fechar, alguém há-de vir tirar o da frente. Mas faltam pelo menos cinco horas! E as pessoas, que passam olham para mim como se fosse louca? Não, não posso ficar dentro do carro. Não, também não o posso abandonar assim. Onde raio estão os seguranças? Telefonei para o namorado e obriguei-o a vir ter comigo. O pai telefonou também e deixei-o chamar-me ursa enquanto o ouvia dizer que estavam a jantar e que a comida estava óptima.

Menina, desculpe, precisa de ajuda?  - Ouvi alguém dizer.

Não me lembro de ter respondido, acho que o meu ar de perdida bastou. Num espaço de segundos estava um velhote cheio de genica com toda a sua família, homens e suas mulheres, netas e sobrinhas, a agarrar na traseira do meu carro. 1, 2, 3, contou. E eis que se ergue o meu pequeno focu - era um focus, mas o S já caiu - no ar, como se de magia se tratasse. Enquanto eu observava, fascinada e de braços cruzados, aquela família que por ali passava moveu o meu carro o suficiente  para me permitir fugir dali com alguma dignidade. E a seguir desejaram-me um Feliz Natal, daqueles sentidos.

Foi fabuloso, simplesmente fabuloso. Eu sorri de volta, feliz da vida e vim para casa a ouvir Jingle Bells.
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