Ainda sobre as botas


Depois deste episódio, e de ter descoberto que já não havia o meu número na Zara, decidi levar senhora botilde ao sapateiro e mandar alargá-la. Pois que esteve dois compridos dias numa forma de ferrinhos a esticar como se não houvesse amanhã. Acontece que, no dia em que a fui buscar, às 20h de 23, tinha andado de saltos altos (íssimos) toda a tarde. Subi e desci escadas como se nunca mais o pudesse fazer. Fui a pé para o Vasco da Gama à hora de almoço, percorrendo ruas tortuosas, cheias de pedrinhas tortas e buracos no meio. Isto para dizer que à noite me doíam as pernas, e doíam à brava. (Com certeza estavam também inchadas)

Oh menina, mas não quer experimentar o par antes de as levar para casa? Deve ver é com as duas calçadas.
Ah, deixe estar, eu vejo em casa. Estou com pressa.
Mas é que se vir agora e não estiver como querem podemos colocá-las na forma novamente. Se levar para casa e não gostar tem de voltar a pagar.
Humm, então experimento aqui.

Desde este simpático diálogo à minha entrada em ponto de ebulição foi um instante. Pois que experimentei as botas e nem as que estavam largas me serviam. Deixei lá ambas, para as igualarem, e quando as recebo de volta pareciam-me ainda mais pequenas. Fiquei com os nervos em franja, disse ao homem que não, não as deixava lá nem mais um dia, porque de maus serviços estava eu farta. Pedi o meu dinheiro de volta, bati com o pé e deixei-o gritar que desejava ter medido as botas antes. Desejei o mesmo e jurei-lhe que não voltava a utilizar os seus serviços.

Não sei o que se passou pelo caminho. Sei, contudo, que chegada a casa, uma hora depois, e temendo as lágrimas, decidi experimentar as botas novamente. Só para me sentir desolada, só para cair na real e perceber que nada mais havia a fazer. Ainda por cima fizeram-se pagar bem. Sapateiros em centros comerciais? Nunca mais. O que aconteceu nesse espaço de segundos não sei. Sei que calcei as botas e entraram como se tivessem sido feitas para mim. Estão algo folgadinhas, é verdade, mas nada que não se controle. Usei-as a 24, 25, 26 e hoje novamente. Não as largo mais, temos sido felizes juntas.

Só ainda não decidi se não volto a entrar naquele centro comercial, ou se lá vou pedir desculpa ao senhor.
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