Traz-me uma lua diferente


Há por aí quem diga que vivemos numa determinada frequência e que isso não implica a inexistência de outras. Funciona mais ou menos como as estações de rádio: não é por estarmos a ouvir uma que o resto não existe, só não estamos sintonizados com as demais. Tal como há diferentes músicas a tocar dependendo da frequência em que estamos, diferentes seres podem existir em diferentes dimensões.

Extraterrestres à parte, e ignorando o meu lado esquizofrénico por breves momentos, a minha interpretação da coisa resume-se às várias vidas que vou levando, por aqui e por ali. Que somos actores, já todos sabem; actores sociais, de acordo com os contextos em que nos movimentamos. Pais por um lado, filhos por outro, trabalhadores de dia e loucos à noite. É como vai calhando, como vamos podendo e como nos vamos moldando. O que poucos se lembram de cumprir é o salto para uma outra dimensão cada vez que despem a pele das últimas horas. É certo e certinho: se chego a casa com a cara e o humor do trabalho, está o caldo entornado e eu desgraçada. É preciso saber largar os papéis da altura certa.

Tento viajar para outros mundos sempre que posso. Anseio pelo fim-de-semana e os fins de tarde por isso mesmo. Redescobri Miss Cherry de uma outra vida atrás de uma mesa, enquanto ouve um professor, aos dias de semana. Deixei viver o outro lado que salta, ri e joga bowling como quem assassina a pista, no aniversário daquela amiga que mal consigo ver no dia-a-dia. Lembrei quem ficou no passado e deixou saudades. E entre vidas fui passeando, assim como quem não quer a coisa, assim como se a actual não me consumisse todos os segundos que tenho livres.
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