Aparecem todas queridinhas, com os xailes, os colares de pérolas e as maquilhagens perfeitas. Têm aquele ar de avozinhas de filme. Usam sempre a mesma mala preta, de outra década qualquer e umas meias de vidro que de vidro nada têm; e perseguem-nos. E depois uma pessoa dá-lhes um raspanete e ainda se fica a sentir mal. Mas a mulher era a mesma, todo o santo dia, à mesma hora e com as mesmas perguntas. Aturei-a, por três meses, bem ali à saída da estação de Santa Apolónia. Até que um dia lhe pedi para me ignorar. Perguntei-lhe se o facto de não ter estado interessada nos últimos 200 dias não lhe dizia nada ou se simplesmente se esquecia de mim, de 24 em 24 horas (tipo peixe, mas com uma duração maior). Escusado será dizer que passou a olhar-me de lado.