Money, money, money


Há uns meses atrás fiz o meu primeiro estágio. Para ser exacta, fiz a minha primeira tentativa de estágio, não concluída. Gostava das pessoas, enquanto pessoas e não enquanto chefes -é preciso saber mandar -, do sítio, ao qual chegava no instante, das conversas animadas aos 15 minutos de almoço, e de uma panóplia de outras coisas que me deixavam à vontade naquele espaço.

Com o tempo, e o passar do entusiasmo, as coisas que não gostava começaram a espreitar para fora dos armários e eu, curiosa, cheguei um dia e decidi abrir as portas, todas de uma só vez. A partir daí só tive um remédio: lidar com tudo aquilo de que me tinha vindo a aperceber. Esta podia ser uma história de segredos e informações ocultas, de falsificações, desvios de dinheiro, corrupção e tantas outras situações que seriam matéria de escândalo. Não é. É uma história de abusos, raspanetes, horas extra rotineiras, e muito, muito pouco valor reconhecido (pelo menos até ao momento de saída).

Despedi-me como via as pessoas fazerem nos filmes. Todavia, o "despeço-me" sonante não coube no diálogo que carecia de contrato ou qualquer papel assinado. Disse só que me vinha embora, não uma, não duas, mas três vezes, ao longo de três dias de propostas melhores, promessas nas quais eu não acreditava, responsabilidades acrescidas que eu não iria assumir sem garantias. A discussão terminou com votos de boa sorte e uma ida ao café. Deixei tudo aquilo que me competia fazer, até ao final do mês, fechado num só dia, sem que ninguém mo tivesse pedido, sem que fosse racional sequer o esforço. Vim-me embora.

Hoje, algum tempo passado, sei que a pessoa que foi para o meu lugar está a receber 9 vezes mais do que eu, para fazer as mesmas tarefas. O estágio curricular deixou de ser requisito e a passagem de avião era directa para um estágio profissional. Como sei de tudo isto? Porque a ex-boss, sim, exactamente, a pessoa a quem eu respondia naquela empresa, que é também a proprietária da mesma, me ligou a informar. A conversa foi mais ou menos assim: "Foste mesmo pateta quando te foste embora, a tal que veio para o teu lugar está a ganhar x. Foste mesmo pateta. Nós queríamos-te cá". Eu fiz um sorriso amarelo, daqueles que não se vêm do outro lado da linha telefónica e soltei um "Pois". E agora pergunto: eu precisava mesmo de ter sabido disto?

Não há dinheiro que apague as más memórias, mas caramba... por 9 vezes mais podia ter laivos de amnésia.


"Money, money, money; must be funny; in the rich man´s world". (Abba)
Obs: O Chi Kung recomenda-se.
© POST-IT AMARELO 2014 | TODOS OS DIREIROS RESERVADOS

PARA MAIS INFORMAÇÕES:
♥ dopostit@gmail.com
♥ https://www.facebook.com/postit.amarelo
imagem-logo