Estar doente nunca é bom, e ser uma estagiária doente é uma situação péssima. A mentira tem perna curta, já se sabe. Mas a verdade nem sempre é fácil de perceber ou rápida de descobrir. A tal estagiáreia já foi ao posto de saúde três vezes, já tomou antibióticos, já rejeitou os antibióticos, já teve febre, dores de garganta e a outite já lhe rebentou. Já apanhou uma injecção de penincilina segunda-feira, já repetiu a dose hoje. A mártir já apanhou uma enfermeira que a espetou quatro vezes, no mesmo dia, até conseguir fazer o seu trabalho, porque parece que a agulha estava sempre a entupir: "este líquido é muito espesso", dizia ela atrapalhada, e de boa vontade. Estas coisas acontecem, e têm acontecido à estagiária. Todavia, não deixa de parecer um filme, cheio de peripécias e situações enroladas. Altos e baixos, melhoras e pioras, às vezes torna-se díficil de acreditar. É então que, no meio disto tudo, a estagiária não tem trabalhado, e no trabalho começaram a achar que ela estava a mentir. Valem-lhe os justificativos dos médicos (que podiam ter sido eficientes logo desde domingo) e as cinco picadas que acumulou em injecções, como provas.
Fica, portanto, o apelo a todos os estagiários, e trabalhadores no geral, para um recurso à verdade. A sinceridade nunca fez mal a ninguém, e até é uma coisa bonita, já que os narizes se mantém miudinhos e engraçados. Por um pagam todos, já se sabe. Quem tem calos escaldados quer é evitá-los. É que estas coisas de desconfiarem de nós percebem-se, mas são chatas, e a mim incomodam-me, sobretudo porque eu e a estagiária somos como se fossemos uma só...