"Eu, os saldos e as minhas amígdalas" ou, se quiserem, chamem-lhe apenas "A sorte de Marta"


Há coisa de dois/ três anos torci o pé na altura dos saldos. Lembro-me, perfeitamente, porque no dia em que arrancaram, no dia em que eu tinha planeado cumprir o meu roteiro de Zaras por Lisboa inteira, já eu estava de atestado em casa, com pé para o ar e a queixar-me da vida. Os meus pais estavam fora, por isso obriguei o namorado a vir aturar-me. E foi isto.

Há coisa de duas/ três semanas, engoli uma espinha. Era dia de trabalho, e tudo aconteceu num almoço que correu mal. Desde aí que não como peixe. Acabei no hospital, frente a frente com uma pinça que tinha o tamanho de todo o meu pescoço (juro que não há exageros aqui), e cerca de seis horas depois de a ter engolido, de muito pão e água pela goela abaixo, saiu a maldita e ficou a recomendação de muito bochecho com elixir, nos dias seguintes. A espinha estava atravessada na amígdala esquerda e não haveria qualquer forma de ter saído por si só. Graças à L., que não desistiu de perseguir o caminho pelo hospital correto - a Saúde 24 atirou-nos para o mais perto que, por acaso, não tinha serviço de otorrino e, portanto, espinha a sair só com endoscopia - saí aos pulos da sala com a médica que vestia bata de cirurgiã, e voltei a sentir o que há horas não sentia: uma garganta limpa. Por diversas vezes, nessa tarde, tentei dissuadi-la. Por vezes, soltava uns "acho que já desceu, podemos voltar para trás" ou mesmo um "deixa lá, eu depois vou", já depois de horas e horas de uma tarde completamente perdida. Pobre L., que quando se ofereceu para me acompanhar, mal sabia o que a poderia esperar! Perde-mo-nos, pois está claro. Porque essa é a minha imagem de marca. Ela, porém, nunca desistiu nem deu grande azo ao meu queixume.

(Sim, isto era o que estava na sala de espera. Não perguntem)

Há coisas de dois/ três dias comecei a espirrar muito. Pode perfeitamente ter a ver com o fato de ter ido correr às dez da noite de quarta passada, quando mudou a temperatura. A intenção era boa, e tinha prometido à prima. Mas levei uns ténis que já não calçava há muito. Deixaram-me os pés dormentes só de conduzir e fizeram-me uma bolha sem sequer uma volta completa ao parque ter conseguido dar. Não corri porcaria nenhuma. Chateei-me com a minha irmã nessa noite e ainda me deitei de janela aberta, porque estava demasiado irritada e cansada para fazer outra coisa que não atirar-me para a cama e enfiar a cabeça na almofada. Cheguei ao trabalho, no dia seguinte, e entrei na minha sala, na qual estão ligadas tantas ventoinhas quanto as necessárias para simular uma tempestade de vento num cenário de Hollywood (não vale diabolizarem os meus colegas, sou eu que tenho sangue de réptil - palavras do pai - e nunca, mas nunca, tenho tanto calor quanto as pessoas normais). Passei o tempo a espirrar e a sentir os olhos arder. Piorou na sexta. No sábado os sintomas fizeram-se acompanhar de uma ligeira impressão na garganta. No domingo não falava. À noite, já nem comia. Não sem me caírem lágrimas com as dores. Hoje fui ao médico em vez de ir trabalhar. E hoje, adivinhem? Começaram os saldos. 

Há coisa de duas/ três horas, perdi-me a revisitar o meu Instagram. Acho sempre que não o alimento e, no entanto, está bem mais recheado do que eu poderia ter dito. Descobri que no ano passado, dois a três dias depois da FIA (soa-vos familiar?), estava doente. Amígdalas, de novo. E, espantem-se, no fatídico 15 de julho, mesmo sendo sábado, fiquei por casa a rogar pragas à garganta.

Posso concluir que o meu organismo não me quer a comprar roupa? 
E, já agora, como SEMPRE disse aos meus pais, nem a comer peixe?

Como vêem, estive ocupada. 
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