Uma solução para a Samsung

Tenho alguma dificuldade em perceber como é que se aponta o dedo tão depressa, tão lá do alto imaginário onde, pelos vistos, todos hoje julgam estar. Não é minha amiga, sequer familiar. Não privamos, nem frequentamos os mesmos círculos. Mas não consigo deixar de pensar que atrocidade cometeu a rapariga para o enxovalhamento público que se lhe seguiu. Para mim, toda a repercussão é muito pior, muito mais mesquinha e muito mais infeliz. Porque quem me dera também a mim ter dinheiro para comprar uma Chanel clássica em 2013. Talvez não propriamente tê-lo, mas tê-lo numa quantidade tão ridiculamente satisfatória que mo permitisse fazê-lo como quem compra uma banana - já que, obviamente, não seria a minha prioridade monetária. Mas são gostos, e gostos não se discutem. E a miúda não viu a mala como uma conquista. Para todos aqueles que só ouvem pela metade, ela referiu bem que a conquista seria o acto de a poder comprar. Ora, e quem é que não quer um tablet, um carro novo, um apartamento melhor, um telemóvel mais assim ou assado. Uma máquina de costura ultra avançada, seja. O que não falta são impulsos consumistas por aí. Eu própria tenho escrito sobre os mesmos. Seria assim tão diferente se fossem vocês em frente à câmara a pedirem um iphone para os anos? Pior. Muito pior: a confessarem que seria bom sinal poder comprá-lo. Estariam à vontade? Seria um vídeo inteligente e natural? Pois, talvez sim, talvez não.  Não percebo como até mais do que o conteúdo, as pessoas se apressem a comentar a forma. A gozar. A criticar. A dizer mal, por puro maldizer. A sentir-se incomodadas, porque não se reveem. Era suposto? São autores de um blogue de moda? Teria sido preferível ela falar da conjuntura política e dos seus desequilíbrios?  Talvez. Mas para que convidaria uma marca uma fashion blogger para discutir este tipo de tópicos? Pois. Err. Outra vez pois. Vou a ver e apontar o dedo deve ter passado a ser bonito, e útil. Útil de certeza. Aliás, se não tiver dado para mais, ao menos já limpou o Youtube, esse portal de vídeos apenas dignos, de um conjunto de desejos para 2013, puramente inofensivos; e deu uma grande dor de cabeça à Pêpa. Uau. Ainda bem que nos unimos por grandes e boas causas. 

É claro que a marca teria outro tipo de obrigação. Os responsáveis pela comunicação. É preciso prever, antecipar, controlar. Mudar, se necessário. Não deixar mal os protagonistas que, não sendo só bloggers, mas essencialmente pessoas, estão ali nesse papel. Ali, no mundo online em que (nesse papel) vivem. Não deixar mal a marca, numa posição em que apenas se pode defender, quando criou uma campanha para atacar. Não deixar mal o consumidor, que não se vai identificar com o que vê, porque aquele não é o seu mundo. Acredito que a Samsung não tenha previsto uma circulação tal dos seus vídeos. Ainda que o devesse - não pelos mesmos motivos, mas a procura é sempre pelo sucesso máximo. Acredito que os tenha criado para circularem essencialmente entre blogues, e para bloggers. E, se apenas assim tivesse sido, faria todo o sentido. Estariam destinados ao seu público-alvo. Mas a Internet é muito grande, e o efeito bola de neve também. Basta uma pessoa de fora não gostar. Basta uma. E é para essa uma que muitas vezes se tem que trabalhar, porque se ela aprovar, então a história será diferente. Se o vídeo chegar a quem deve chegar e não incomodar os outros, então a missão foi bem cumprida. Não foi o caso. Com muita pena minha. Não pela marca, mas por quem por ela deu a cara. 

À rival da Apple apenas desejo para 2013 uma seleção mais criteriosa de quem orienta a sua comunicação. E, se me permitir a ideia, uma nova série de vídeos, com as mesmas caras. Desta vez, com desejos de menos fila na sopa dos pobres, mais promoções nos supermercados, uma primark a cada esquina e, já agora, mais velas para casa, que não há dinheiro para a conta da luz. E que refiram a crise. Várias vezes. A crise é palavra que não pode faltar para que haja aceitação do resto do país. Porque pessoas sérias são aquelas que falam de pobrezinhos e de desgraças a toda a hora. E não venham já apedrejar-me, que estou 100% de acordo quanto a uma primark a cada esquina. Mas a mim ninguém me quis filmar. Esperem lá, nem a vocês. 

Pois. 

Este post diz respeito a isto.

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