Parágrafo?

                                                                            Ed Westwick and Leighton Meester

Nunca é fácil falar de relações. Somos bichos tão difíceis que até enerva. E mesmo quando as menosprezamos, quando achamos que são uma parte secundária da nossa vida cheia de sonhos e aspirações pessoais, é no momento em que estão em baixo que tudo desmorona e que o drama começa. Não é a primeira vez que ouço a mesma história: homem conhece mulher - mulher dá a volta à cabeça do homem - homem deixou de ser homem e passou a ser namorado. Mulher gosta, homem sufoca. E isto dá para os dois lados, e em tons de vice-versa, que mulher encantada por homem, e a babar enquanto ele passa, não é coisa que por aí falte. O ponto, todavia, não é esse. Falo de duas pessoas que estão juntas, de um casal que se habituou a assim o ser, até que um dia, um ou outro se assusta e se lembra de que se esqueceu de ser antes quem é. Parece teoricamente fácil e prático encontrarmos o equilíbrio entre ambos, e não é utópico fazê-lo. O problema, mais ou menos como nas grandes crises, é quando algo dá para o torto e nos lembramos, de repente, de tudo o que não foi feito, de tudo o que se deixou de fazer e do rumo que foi seguido, já não se sabendo bem porquê. 

Lembro-me muito bem de uma chamada que recebi há uns meses, dela, assustada e com medo de se ter perdido numa relação que já punha em causa. Veio-me logo à cabeça quando, há pouco tempo, ouvi a mesma conversa, desta feita no masculino. A minha reacção foi a mesma. Aprendi, com a primeira vez, a manter-me mais afastada no futuro, mas não consigo deixar de pensar da mesma forma. Não dou palpites com a mesma regularidade, já me basta todo o esforço das ultimas vezes para depois voltarem aos braços um do outro como se nada fosse. Mas acredito, como sempre acreditei, que nenhum deles me está a dizer que se sente perdido por ter abdicado demasiado. Estão, antes, a convencer-me, porque assim se convenceram, que é esse o problema. Não é. O grave é sentirem que isso aconteceu, e não ter acontecido. E a partir desse momento, por muito que se esperneie e dê voltas à cabeça, as coisas acabaram. É, na realidade, isto que dizem quando já o sentem tão alto que o têm de contar a outra pessoa, seja ela quem for. É um ponto final, com a desculpa de que custa e de que não se apercebem bem do que está a passar. Ora porque lhes parece repentino, ora porque gostam da pessoa. E é normal que assim seja, porque todos temos (ou deveríamos ter) graves problemas em encerrar capítulos da nossa vida que envolvem, ou já envolveram, sentimentos muito fortes. O que eles ainda não sabem é que dizê-lo é a parte mais difícil. Conseguir admitir que algo não está bem, e fazê-lo em voz alta, é o que mais coragem requer.

Não dá para voltar atrás e fingir que nada acontece. Não se abranda, de repente, o ritmo de uma relação porque temos dúvidas, queremos ir descobrir o mundo primeiro ou porque nos apetece voltar a sair à noite em vez de ficar no sofá. Mas há muitas que renascem a partir daí, quando ambos estão, finalmente, conscientes do que querem e dos erros cometidos. Não sou de acreditar em milagres, mas eles são como as bruxas. É "só" preciso garantir que a outra pessoa compreende o que se passou, e não apenas que diz compreender para recuperar o que perdeu. É "só" preciso garantir que estamos dispostos a tentar de novo, mesmo sabendo que, desta vez, já sabemos perfeitamente no que nos estamos a meter. É "só" preciso assegurar que nenhuma das partes ficou irremediavelmente magoada. E "só" fundamental ter a certeza de que, agora, as coisas vão ser diferentes. Porque se assim não for para o ser, à segunda irá custar ainda mais, e à terceira mais ainda. Cumprindo todos os requisitos, porém, as coisas só podem ficar mais fortes. E quando assim o é, cheira a história de encantar, daquelas que nos aquecem o coração, porque assumem contornos reais.
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