Quando é que já chega?

Às vezes, a desilusão maior é perceber que sempre soubemos que nos iríamos desiludir. É acreditar que não acreditámos em nós, mesmo quando cada pedaço do nosso corpo gritava para se fazer ouvir. Num trabalho, numa relação ou em determinado momento da nossa vida, é virar as costas a um instinto, a algo que nos diz, insistentemente, que não vai resultar. E nós, teimosos como quase sempre, insistimos de volta e fechamos os olhos ao que estamos a ver. É aquela situação em que sabemos exactamente o resultado final, desde o início, e mesmo assim, mesmo quando caminhamos a passos largos para o verificar, chamamos-lhe de "teste" ou de "última oportunidade", porque há sempre uma pequena esperança que não admitimos, nem percebemos ser maior do que qualquer certeza que já tenhamos. Porque, apesar de tudo, e lamentando toda a inércia e vontade de permanecer no desconhecimento - o ignorante é sempre mais feliz -, o português é um idealista de cabeça sonhadora, que o recusa racionalmente, mas que não sabe viver de outra forma. Há uma crença permanente num futuro melhor, que não o torna positivo, pelo contrário, mas que também não o faz agir. É um ficar à espera característico de quem não tem coragem para admitir que assim já não vai lá, porque no fundo se quer que vá. Mas e para onde vai o querer, quando tudo o que fazemos é dizer que queremos?
 
A desilusão maior é perceber que ignorámos o que sabíamos, não porque não soubéssemos ser verdade, mas porque o sofrimento só viria no fim. Quantos entretantos se perderiam com essa antecipação? Descobrir que estamos certos acerca do que pensamos sobre um trabalho, uma relação, determinado momento da nossa vida ou mesmo do país, não é um prémio; é quase sempre um fardo com que ainda não aprendemos a lidar.
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