Dilemas da procrastinação ou Mas depois penso...e não trocava este momento da minha vida por nada.


Eu juro que tenho tentado ser uma pessoa mais organizada, a sério que sim. Tento fazer os trabalhos todos com a devida antecedência, dormir 8 horas por dia e estruturar ao máximo todos os deveres mestrado/ vida profissional, para que possa equilibrar as duas realidades o melhor possível. Procuro guardar algum tempo para a família, amigos, estar com ele e ainda vaguear por aí, sozinha, que é das coisas que mais gosto de fazer. Planear as refeições no dia anterior, tentar pensar na roupa que vou tirar da gaveta nos segundos antes de me levantar, programar sempre o despertador para o mais cedo possível, e tantas outras minhoquices que me tranquilizam.

É claro que o que na verdade se passa é, nada mais, nada menos, do que um absoluto caos.

O mestrado, regra geral, tem que ficar para segundo plano. O ginásio, já há uns tempos que foi ao ar. Só eu e as minhas pernas sabemos a falta que nos faz. A lista de coisas para fazer é sempre infindável e raramente começada. Dá-se prioridade ao que, por ser tão urgente, nem sequer entrou para o mesmo papel. A roupa é escolhida muito à pressa ou, quando acordo mais cedo, depois de experimentada por várias vezes, despida, largada e amontoada ora na cama, ora no chão. As refeições têm acabado por ser uma elaborada conjunção de enlatados que não vão com a água bem escorrida. E os trabalhos da faculdade são, quase sempre, feitos pela noite, quando já estou encharcada em guaraná e o dia seguinte é o da entrega. O namorado foi banido de casa, e há duas semanas que cá não põe os pés, porque chega a sexta e os dois dias que se seguem estão completamente preenchidos com as disciplinas que passei o tempo a ignorar. Não porque quisesse, mas nem pão para malucos, nem tempo para mais. Os dias fazem-se devagar, um de cada vez, e olhos fecham-se no metro, à ida e à vinda. Às vezes chego casa e o sol ainda se faz notar. Eu, porém, morro de vontade de dormir. E como chego e como, geralmente pela primeira vez ao dia decentemente - os pratos são da hora, estão quentinhos e cheiram bem - como mais. Não me posso deitar logo, correndo o risco de uma madrugada de vómitos. Por isso invisto antes na proeza dos palitos e da pálpebra. Ainda não cheguei lá, mas um dia vou ser capaz. Ligo a televisão, mais vezes ainda o computador, e lá vou eu ver o último episódio de alguma série ou tentar a primeira parte de um filme que promete continuar a ser visualizado nos próximos quatro dias. Qualquer coisa leve, para que o esforço mental não seja muito e possa desligar um bocado. Das duas uma: ou me prende a atenção de tal maneira que não só é visto até ao fim, como me faz deitar tardíssimo, ou adormeço ainda os créditos iniciais estão a passar. De qualquer das formas, nunca dá para as 8 horas. Nem ao fim-de-semana. Aos domingos deixo-me dormitar por 10/ 15 minutos, volta na volta e quando a casa está demasiado barulhenta para fazer alguma coisa. Não servem para nada. Deixo as coisas para depois. Para depois do almoço, depois do lanche, depois do jantar. Faço as pausas que há e as que não há a fazer. E quando dou por mim, são 21 horas e há sempre qualquer coisa aberta no word ainda longe de terminar. Tudo se faz e tudo se acaba. Não falto, nem falho com prazos. Meti-me nisto e já sabia ao que ia. A minha vida mudou, é verdade, mas também era algo que procurava. Agora é ir fazendo o melhor que posso e tomando muita vitamina. É só mais um mês, o meu mês. Em Junho cheira-me que volto ao exercício, ao sol, e quem sabe até aproveito os dias de praia.

As rectas finais nunca me parecem as mais difíceis. O que importa já foi construído pelo meio. Todavia, são as mais trabalhosas, as que mais custam e as que mais exigem de nós. Apenas porque implicam pontos sem parágrafo que se lhe siga, e se nada do mesmo vem depois, tem que ser acabado o melhor que se pode. Hoje é noite de ficar acordada. Para o próximo fim-de-semana descansa-se.

Obs: Não me entendam mal: não vejo outra forma de fazer as coisas. Estou para comprar uma agenda desde Janeiro. A do ano passado andava cheia de papéis dentro, mas nunca foi usada. Entendo-me no caos e é assim que para mim tudo resulta. Inesperadamente, para muitos, muitíssimo bem. Se continuo a tentar encontrar-me com um lado meu que privilegie a organização? Pois claro que sim. O que eu não dava por uma secretária branquinha, com flores frescas que não morressem, um cházinho sempre de lado e um computador do mais arrumado que há. Para já, contudo, ainda não tive o prazer de conhecer esse meu interior dormente. E nem me preocupa. Quase não sou capaz de atravessar o quarto, tantas são as coisas espalhadas pelo caminho. O meu tapete é uma prova de obstáculos. A minha cabeça, porém, está mais no lugar do que alguma vez esteve.

*Como se não bastasse, é dia de estreia de uma data de parvos reality shows que nem vou poder espreitar para dizer mal.
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