Ossos do ofício da insatisfação


Nem sempre soube o que queria fazer da vida. Ainda hoje, vou descobrindo, todos os dias, e das formas mais inesperadas, novos interesses e novos desejos de novas experiências e novos conhecimentos. Ou então, lembro os algos que deixei para trás, por vezes com saudade. Sei das aspirações de menina, que queria ser educadora de infância. Ou da adolescente, que achou que só estaria bem a escrever todos os dias. A indecisão foi sempre tal que, na hora de optar pelo agrupamento a seguir, no ensino secundário, não consegui escolher entre letras ou ciências, acabando por optar pelo desafio da economia. Sabia que artes era a única vertente fora do meu alcance. Por muito que tenha tentado, estive sempre tão disposta a compreender o que é uma perspectiva cavaleira, como a ter que desenhar um cavalo: quase nada, portanto. A matemática, à qual eu dedicava todo o meu ódio interior, e para a qual eu direccionava as minhas birras, acabou por me obrigar a ser mais e melhor, a esforçar-me e a aprender que ser bom é fazê-lo, em primeiro lugar, naquilo que não gostamos. Quase toda a gente se sai bem a trabalhar no que já sabe, gosta e conhece. E eu acho perfeito. É, aliás, coisa para almejar. Sobretudo se aquilo que gostamos nos pode garantir um lugar ao sol. Mas nem sempre a vida começa certa, e quase nunca o caminho começa pelo fim.

Finda a economia de 12.º ano, eis que volto às letras e enveredo pela comunicação social. Se queria seguir jornalismo? Talvez. Há poucas coisas que não considere aliciantes na profissão. O que eu não sabia, nem poderia saber, era que ao entrar para a faculdade, na área em que o fiz, estava a descobrir, por fim, um mundo que me deslumbrava. E percebi que não era só o jornalismo, nem só a comunicação organizacional, nem só a parte cultural, ou o marketing e as relações públicas. Era tudo um bocadinho. Sem saber como, perdi-me num universo que de tão vasto, pouco em concreto acaba por ter. Talvez por isso me tenha deixado levar quando a primeira proposta de estágio, em organização de eventos, surgiu. Ou quando o departamento de comunicação e imagem daquela faculdade me chamou para redigir um boletim institucional e enviar os primeiros comunicados de imprensa. Estive um mês em casa, desempregada e a sentir que a minha vida tinha acabado e que nunca mais iria arranjar trabalho, até aparecer o anúncio daquela agência, na qual comecei a exercer funções, logo na semana seguinte, e onde até hoje permaneço. Assim me fui deixando ir, experimentando aqui e ali, aprendendo a conhecer-me e a perceber o que realmente gostava de fazer. Já quis muito afirmar de boca cheia, e sem hesitações, que o descobri. Agora, de pés mais assentes na terra e olho no mundo que me rodeia, começo a desvalorizar as certezas incontestáveis.

Mestrado em Gestão Estratégica das Relações Públicas para preencher a lacuna empresarial que me fazia falta. Possível pós-graduação à vista em Consultoria de Imagem. Vontade de substituir a tese por projecto em terras brasileiras. E pouco mais de duas décadas de vida para poder vir para aqui fincar o pé e dizer o que quero fazer para todo o sempre. Não que tenha algo contra a quem o sabe, pelo contrário: tenho uma tremenda admiração e várias pontadas de inveja por aqueles que nunca hesitam, não têm dúvidas e fazem o que for preciso para chegar onde querem. Mas o que eu quero é ser feliz, escrever um bocadinho, divertir-me enquanto posso, e gostar realmente do que faço. Continuar a ler, a estudar, ganhar algum dinheiro, para uma vida sem preocupações, e ser profissionalmente reconhecida. Fora isso, venha o que vier, eu recebo com um sorriso e dou o meu melhor. Quem sabe não descubro se não é o que sempre quis...
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