A praga do Panhonha Pro versão 575740853'453'059 - Panhonha & Burro



Há coisas na vida com que ainda não aprendi a lidar. A inércia é, talvez, a que mais me preocupa. Se aliada a uma boa dose de burrice, então, é coisa para (quase) me tirar o sono. É que, parecendo que não, há por aí disso aos pontapés. Na rua, ao virar de uma esquina, ao balcão de um café, à secretária de uma empresa, à frente de uma multinacional...Eles são tantos que contá-los seria perda de tempo - daquelas irrecuperáveis. Ora, o problema grave no meio disto tudo, é que esta é uma espécie em evolução. Cada vez que surge um novo modelo vem aprimorado: mais burro e mais inerte. E pronto, está feita a coisa e nascido o panhonha.

Tenho conhecido alguns panhonhas ao longo da minha vida, e não posso deixar de notar - com algum fascínio - a melhoria de que têm sido alvos. Quando penso que conheci o panhonha mor, logo outro aparece com o nariz empinado como quem quer dizer "Eu consigo fazer ainda melhor" (ou pior, dependendo da perspectiva). São conhecidos por certas e determinadas características e têm invadido o nosso planeta com um afinco e determinação que me aflige - penso que vieram para ficar. Proponho, por isso, que fiquem atentos aos elementos que os identificam para que, assim como quem não quer a coisa, os possamos eliminar, um a um:

1. Podem ter um ar engraçado, tímido e até simpático, mas sempre que lhes é feita uma pergunta mais específica, o semblante evolui para uma expressão perdida, confusa e solitária.

2. Costumam acertar nas coisas sem ter a mais pequena noção do que estão a fazer.

3. Dão mais trabalho a quem os rodeia quando trabalham do que se não fizessem nada.

4. Por muito que se lhes explique uma coisa, não aprendem e ainda nos olham como se estivéssemos a reinventar o Teorema de Pitágoras.

5. Têm por hábito demorar tanto tempo a pensar como a agir. Quando decidem fazer uma coisa - mesmo que não percebam bem o que é - é para ser mal feita e com toda a lentidão possível.

6. Costumam achar que têm razão quando chamados à atenção. Nunca, claro, em demasia. Depressa voltam ao estado de inércia.

7. Não aprendem, não percebem e não conseguem. Todavia, sempre que podem, ensinam.

8. Não têm consciência das suas limitações - insistem em ignorá-las.

9. Fazem as coisas mais estranhas, mas vêm nelas um sentido. Ex.: Fotocopiar um papel antes de o enviar por fax para o poder devolver (O panhonha A acreditava piamente que quando um papel entrava no fax não voltava e partia directamente para o seu destino); Arrastar um ficheiro para a Caixa de Entrada do Outlook para que possa chegar ao e-mail do destinatário (Notem que o panhonha B nem sequer colocou o e-mail de quem deveria receber o anexo. Partiu simplesmente do princípio que já chegámos à Era da Máquina Inteligente. Ele arrasta um ficheiro que insiste em não ficar no programa - sabe-se lá porquê - mas que se por um algum acaso ficasse, o computador seleccionaria automaticamente a pessoa que o deveria receber).  

10. Temos tendência para simpatizar com eles em primeiro lugar, e para nos enervarmos em segundo, terceiro, quarto, quinto...

Tenho alguma experiência com panhonhas, é verdade. Ainda não percebi muito bem como é que, de um modo eficaz, poderemos proceder à sua extinção. Para já, divirto-me a olhar fixamente para eles quando estão atrapalhados: a pressão é o seu pior inimigo. Trazem ao de cimo o que de maléfico existe em mim (sou um anjo) e, por muito que queira, não consigo controlar-me. Imagino-me a abaná-los até funcionarem ou a bater-lhes com um martelo de plástico daqueles que apitam. É mais forte do que eu. Diz, quem assiste às minhas interacções com as criaturas, que fico com um olhar assustado. Não desminto: a ignorância gratuita assusta-me. Sobretudo porque não vejo qualquer intenção de mudança; qualquer vontade de saber mais ou, no seu caso, de apenas saber. Explicam-me que, por muito que tente respirar fundo e contar até 10 em silêncio para não me lançar aos seus pescoços, acabo por deixar transparecer um tom irritado, quando falo com eles muito devagar, quase silabando as palavras, como se algum atraso de compreensão comprovado tivessem. E eu tento, a sério que tento ser uma pessoa melhor, mas quando me respondem abrindo a boca para deixar sair disparate, só me apetece abrir-lhes a janela e desejar-lhes boa viagem.

Sim, eu sei. Vou daqui direitinha para o inferno. E por mim tudo bem, desde que não nos voltemos a cruzar.
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