De volta aos 90´s

                                                                         Romy and Michele's High School Reunion, 1997

Há sempre qualquer coisa de terrivelmente magnético num encontro com alguém de quem já não sabíamos há muito: somos atraídos para a gabarolice como o hímen para o frigorífico. É aquela necessidade de parecermos bem, aliás, melhor, e que só ocorre em duas situações. A primeira, mais fácil de identificar, tem muito a ver com aquele sentimento bonito e produtivo que é a inveja. Ou é porque é uma ela que era mais gira, mais alta, mais popular e com um cabelo mais brilhante, com as roupas que queríamos e com os pretendentes que namoriscávamos; ou é porque cheira a ele, a um ex-ele - e convenhamos, ninguém gosta de estar em má forma à frente de um(a) ex-namorado(a). É sempre muito mais construtivo para o nosso ego se estivermos num melhor emprego, numa melhor relação e de preferência com muito melhor aspecto.

E é então que começamos a sentir o tempo sugar-nos, voltar àquele momento em que usávamos jardineiras cor-de-laranja-quase-florescente como quem veste Oscar De La Renta (sim, calculo que esta parte tenha sido só eu). Deixamos o pensamento recuar à altura dos bilhetinhos, dos telefonemas que nos aceleravam o batimento cardíaco e das cartas de amor de que não mais voltaríamos a ver. Permitimo-nos retroceder e perceber os sorrisos, os olhares, as convicções; a facilidade em ser feliz. Lembramo-nos da escola, dos professores, dos colegas e das parvoíces. Lembramo-nos de ler a Bravo e treinar beijinhos em laranjas. Lembramo-nos de que ele(ela) foi a nossa primeira paixoneta; daquelas que dava dores de barriga só por se passar perto da casa do(a) respectivo(a).

Depois, devagarinho, voltamos ao agora. À construção de uma carreira, ao alcançar de certos e determinados objectivos profissionais. À construção de uma relação, ao alcançar de certos e determinados objectivos pessoais. À família, ao círculo de amigos, à conta bancária. E, inevitavelmente, à imagem. Tropeçarmos num ex despenteados, envergando um fato treino suado e com a boca a cheirar a alho não será, de todo, a melhor das hipóteses. Felizmente, ela só ocorreu na minha cabeça. Felizmente, há tempo de preparação. Podem passar os anos que se quiser, que vamos continuar a querer sair como os mais bem-sucedidos da conversa. Vamos continuar a querer que ele(ela) saia a pensar em como teria sido espectacular a sua vida se tivéssemos ficado juntos -ainda que não fizesse, nem faça, parte dos nossos planos. É apenas gula. Vontade de saborear um momento que nos vai permitir virar as costas e sorrir. Sorrir de vitória a um jogo que só nós poderíamos ganhar, e no qual um sorriso desses é um primeiro lugar indiscutível.
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