Oito horas e vinte e um minutos

                                                                                                                               Nina Dobrev

Gostava que nem tudo mudasse tão de repente. Que o tempo continuasse a passar, mas que se permanecesse igual. Não nós, não o nosso aspecto ou forma de pensar, mas aquilo que sentimos naquela altura. Gostava que ficasse. Gostava que pudesse ficar. É como quando estamos deitados ou sentados naquela posição perfeita, naquele ângulo que encaixa perfeitamente na cama, cadeira ou sofá. Por muito que escureça lá fora, que este ou aquele gritem e que o mundo desabe, não nos vai apetecer levantar. É assim mais ou menos como um bom abraço. Daqueles fortes. Daqueles que ficam. Gostava que pudessem ficar.

Gostava de trazer comigo o cheiro a praia, e de fechar os olhos para poder ver aquele pôr-do-sol. Queria ficar quieta e voltar a ouvir as nossas gargalhadas, quando estamos todos juntos, a divertir-nos como se não houvesse amanhã. Queria poder trazer no bolso um bocadinho de ti, e de ti, e até de ti, e de todos aqueles momentos que passámos aqui e lá, de todos aqueles em que fomos felizes e despreocupados.

Queria as músicas no Inverno, quando a chuva caía e nós ficávamos dentro do carro. Queria os ralhares das professoras porque sabia que não me eram dirigidos. Queria voltar a sentir que o pouco é enorme, e que vale tanto. Queria aquela liberdade que eu achava livre. Gostava de poder sair da escola e comprar comida no café da esquina, porque me fazia sentir grande. Vibrava com as mãos no primeiro volante, porque me levava àquelas tardes de fantasia, em que podia ser eu, vocês; eu e elas ou eu e um ele, sem pais atrás, sem permissões ou horários.

Gostava de trazer aquela madrugada, aquela passada a conversar contigo, que eu via como o meu modelo de vida, porque eras mais velha, falavas bem e usavas roupas giras. Mas, principalmente, porque mais três anos não existiam quando as dúvidas e queixas sobre os rapazes eram as mesmas. Ou a outra, a outra noite passada em branco, contigo que ficaste ao meu lado, quase em silêncio e a dizer tanto, enquanto o sol nascia.

Queria o olhar de despedida, sem a lágrima que se vê, e com o coração que chora. Queria o olhar do regresso, que vi em ti, e em ti e até em ti. Queria poder trazer o medo do desconhecido de volta, e a certeza do novo depois. Queria poder fazer o relógio parar, sem que os ponteiros parassem.

E com tanto querer, tudo quis e tive. Agora mesmo. Assim.
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