A saga das casas



Há sensivelmente um ano descobri a casa na qual queria viver. Por um bom tempo, pelo menos. Tinha arrumação para mim e mais dez. Uma casa de banho que parecia um salão de baile e uma sala ampla, com uma kitchenette completa e de ar moderno. Adorei-a. Foi a única casa (penso) que fiz questão de mostrar aos meus pais. E esse foi meio caminho andado para não ficar com ela. Enquanto eu e a minha mãe babámos para os mil armários embutidos nas paredes a cada corredor, o pai e o namorado viam a ausência de janelas (sim, eu sei que parece grave, mas vocês não sabem como era maravilhoso o apartamento). 

Setembro de 2014 e eis que o mesmo senhor, com a mesma disposição para a conversa de há 12 meses atrás, e perfeitamente lembrado da minha família, me mostra um novo T2. Não fiquei apaixonada, nem nada que se parecesse, mas muito inclinada para o aluguer. Porque o sítio é o ideal. Com estacionamento em abundância e o jardim mais bonito de Lisboa no fim da rua. E a casa beneficia de uma luz exuberante em todas as divisões, uma pintura de cara tão limpa que faz o velho parecer novo e um café mesmo em baixo, daqueles com cadeiras sobre o passeio e euromilhões em cima das mesas. 

Imagino-me a viver lá. Imagino mesmo. Mas depois pergunto-me se as paredes entre as quais quero ir dormir não deveriam arrebatar-me como se diz que os vestidos de noiva fazem. Especialmente porque já o senti. Chata da casa que não tinha janelas.
© POST-IT AMARELO 2014 | TODOS OS DIREIROS RESERVADOS

PARA MAIS INFORMAÇÕES:
♥ dopostit@gmail.com
♥ https://www.facebook.com/postit.amarelo
imagem-logo